28 de junho de 2014

Na hora da reunião, empresas trocam resort de luxo por aeroporto

Em média uma vez por mês, Therese Hampton viaja de Portland, no estado norte-americano do Oregon, sede de seu escritório doméstico, ao Aeroporto Internacional Seattle-Tacoma (SeaTac), um voo de 35 minutos, para encontrar colegas de trabalho. Ela não vai longe dali.

Therese se junta aos colegas – muitos dos quais também vêm de avião – do Public Generating Pool, órgão centralizador de 11 serviços de utilidade pública dos estados do Oregon e de Washington, do qual ela é diretora executiva.
                   Aeroportos investem na adaptação de espaços para receber reuniões.

O grupo se reúne numa sala no Centro de Conferências do aeroporto, com 764 metros quadrados de área útil, incluindo auditório e salas individuais de 42 a 102 metros quadrados que podem ser unidas para criar um espaço maior. Geralmente, o evento, que dura o dia inteiro, conta com apresentações de convidados sobre assuntos importantes do setor. Therese volta para casa no mesmo dia.

Orçamento mais apertado muda local de reunião

À medida que o orçamento para viagem encolhe e as empresas examinam em detalhe a produtividade, quem viaja a negócios pode descobrir que o destino da próxima reunião não é um resort de luxo nem um hotel no centro, mas um aeroporto.

"Em alguns casos, reuniões distritais e regionais de treinamento substituíram viagens mais longas", disse Kristin D. Kurie, presidente do Wilderman Group, empresa de gestão de hospitalidade de Charleston, na Carolina do Sul. Além disso, essa opção tem o atrativo extra de não necessitar uma noite a mais na estrada.

Nem sempre foi assim. Antes de Therese entrar na empresa em 2013, o grupo se reunia em hotéis. Contudo, por experiência própria, a executiva sabia que chegar a hotéis consumia tempo e, uma vez lá, os participantes ficavam de olho no relógio para ver se tinham tempo de pegar o avião. Agora, ela virou defensora da reunião no aeroporto. "O centro de conferências do aeroporto minimiza a complexidade e a logística da viagem".

Atentos à demanda, os aeroportos vêm reconfigurando áreas não adequadas para outras atividades. "Pode ser um lance de escadas para cima ou para baixo, com menor probabilidade de ser visto pelas pessoas passando no corredor", explica Henry Harteveldt, analista de viagem do Atmosphere Research Group.


O Aeroporto Internacional de Portland e o Aeroporto Internacional Hopkins de Cleveland contam há um bom tempo com centro de conferências. Nos últimos anos, eles receberam a companhia do SeaTac, do Aeroporto Internacional Lambert-St. Louis, do Aeroporto Internacional de Indianapolis e do Aeroporto Nacional de Washington Ronald Reagan, entre outros.

E estão ocupados. O SeaTac informa ter registrado 1,2 mil agendamentos no ano passado, embora perto de 500 fossem reuniões internas, contra 845 em 2008. O Reagan diz ter recebido aproximadamente 50 agendamentos por ano, a maioria no boca a boca.

Com a consolidação do setor, os aeroportos também se tornaram mais competitivos entre si. Os maiores beneficiários são os centros de conexão, onde as vagas em hotéis se esgotam rapidamente.

Estatísticas da STR, empresa de pesquisa de viagem de Hendersonville, no estado do Tennessee, mostram que a taxa de ocupação de hotéis de aeroporto foi de 70% até agora neste ano, enquanto o índice para o setor como um todo caiu abaixo dos 60%. "Aeroportos costumam ter índices mais elevados de ocupação", afirma Jim Holthouser, vice-presidente executivo para marcas globais do Hilton Worldwide.

As salas de reuniões em aeroportos também concorrem com hotéis vizinhos a aeroportos, acessíveis somente por ônibus ou van. Esses hotéis são mais convenientes e baratos do que os dos centros comerciais.

Oportunidade para os aeroportos

Os aeroportos buscam ser competitivos. Por exemplo, o Reagan cobra US$ 95 a hora por uma sala de reunião para 40 pessoas; a diária é de US$ 500. Como comparação, uma sala de reunião para um público de 15 a 30 pessoas no vizinho Hilton Crystal City custa US$ 350 por dia.

Tais iniciativas não surpreendem Christina Cassotis, vice-presidente da consultoria de gestão ICF International. "Nos Estados Unidos, os aeroportos começaram a funcionar mais como empresas e não como serviços de utilidade pública".

Por conta disso, os hotéis de aeroportos estão fazendo reformas para enfrentar a concorrência. A Radisson administra um hotel com serviço completo nos arredores do Aeroporto Internacional John F. Kennedy. Franquia que tem como donos Amaya Hospitality e Vista Hospitality, o hotel está investindo pelo menos US$ 2 milhões em reformas, sendo que já transformou quartos de hóspedes em espaço para reunião.

Darin Miller, vice-presidente do Vista, estima sediar de 150 a 175 reuniões por ano. E o Crowne Plaza Phoenix Airport Hotel terminou uma reforma de US$ 8 milhões em janeiro. O Courtyard by Marriott Cleveland Airport North também concluiu uma ampla reforma dos quartos de hóspedes.
Com as convenções e reuniões feitas em aeroportos e hotéis próximos, até a ida ao restaurante é abandonada.

Com tempo reduzido para reuniões, os viajantes também estão deixando de ir comer em outros lugares. Segundo Stephani Robson, professor da Faculdade de Administração Hoteleira da Universidade Cornell, sua pesquisa constatou que o espaço de reunião era mais rentável em hotéis de aeroporto do que em outros tipos de propriedades, em parte porque "provavelmente você não irá jantar na cidade".

Há viajante que prefira o hotel do aeroporto. Roy S. Kobert, advogado especializado em concordatas da GrayRobinson, de Orlando, no estado da Flórida, é uma dessas pessoas. Kobert conduz mediações e descobriu que a melhor forma de ter resultados num caso é por meio de reuniões cara a cara. Ao escolher um local, ele leva em consideração o preço, a localização e o serviço direto.

Depois, aluga salas de reunião em hotéis e encomenda a comida. "Assim, ninguém precisa sair." Kobert diz que pode solicitar uma sala de reunião não adjacente no mesmo andar.

Grupos que queiram se reunir no começo da noite podem ter de defender seu caso. Enquanto as salas de reunião do aeroporto do Cleveland ficam abertas 24 horas desde que solicitadas com antecedência, as do SeaTac podem ser usadas das 7h30 às 17h, com a possibilidade de horas adicionais. Já o de St. Louis analisa as reuniões longas caso a caso.

Desconforto no aeroporto

Além disso, existe a questão da atmosfera. De acordo com especialistas, dependendo da localização, horário do voo e clima, os viajantes podem ser lembrados de maneira pouco sutil de onde os aviões são reabastecidos, embora os engenheiros possam manipular o ar externo e minimizar odores.

Mesmo assim, o negócio mantém o vigor e alguns aeroportos estão dando um passo a mais, sendo donos de um hotel próprio.

O Aeroporto Internacional Dallas-Fort Worth tem um Grand Hyatt dentro do Terminal D. O Aeroporto Internacional de Denver está construindo um Westin, que deve ser inaugurado até o final de 2015. E o Aeroporto Internacional Hartsfield-Jackson Atlanta avalia a construção de um hotel no terminal doméstico.

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