28 de julho de 2014

Smartphones começam a substituir chaves de casa

Nesta era de transformações rápidas, a chave de casa tem sido incrivelmente resistente a mudanças. Os carros estão se tornando verdadeiros "chavefóbicos". Hotéis e prédios de escritório preferem cartões de acesso. Mas, ainda assim, a pequena chave de metal que levamos para cima e para baixo – em parte objeto de segurança, e em parte totem da vida doméstica – não é substancialmente diferente da que nossos pais, os pais deles e os pais antes deles carregavam desde antes da Guerra Civil Norte-Americana, quando Linus Yale Jr. inventou a fechadura de cilindro, modificando um antigo design egípcio.
                                Chaves começam a ser substituídas por smartphones.

Mas isso foi antes da Internet das Coisas, uma forma de ver a vida em que cada objeto da casa, na importa quão simples sejam e a quanto tempo tenham sido esquecidos pelos projetistas, pode ser conectado à vida digital.

E agora, como o termostato e a panela de banho-maria, a chave de casa e sua parceira predileta, a fechadura da porta da frente, também estão entrando para a revolução "smart".

Ao longo do último ano, diversas travas eletrônicas de grandes nomes do setor, como a Schlage e a Kwikset entraram para o mercado, permitindo que a porta seja aberta com a ajuda de um smartphone, tablet ou computador. E duas novas fechaduras criadas por startups de tecnologia, que logo poderão ser compradas, prometem a facilidade de uma porta que abre automaticamente quando você se aproxima.

Muitos especialistas afirmam que qualquer sistema de chave e fechadura só oferece um pouco de segurança e, basicamente, só impede a entrada dos honestos. Os desonestos muitas vezes nem passam pela porta da frente, e preferem quebrar um janela ou alguma outra entrada para a casa. A verdadeira fortaleza é protegida por alarmes – ou guardas armados.

Comodidade é vantagem da fechadura eletrônica

Sendo assim, o argumento de venda dessas fechaduras não parece ser a segurança, mas a comodidade. Chega de fuçar nos bolsos atrás das chaves com as sacolas de compras nas mãos. Ou de correr de volta para casa para deixar o encanador entrar. Ou ainda, se você instalar uma fechadura Schlage Touchscreen Deadbolt, pagar para uma loja especializada fazer cópias das chaves.

Steve Down, supervisor de segurança domiciliar da Schlage, afirmou que a fechadura Touchscreen elimina a experiência como um todo. Basca colocar uma senha, em pessoa ou, caso a fechadura esteja conectada a um sistema de automação doméstica, a quilômetros de distância com a ajuda de um smartphone, tablet ou qualquer aparelho conectado na internet. Os códigos podem ser fornecidos a membros da família, convidados, e prestadores de serviço.

"Você tem 30 códigos de acesso por vez", afirmou Down. "Eu acho que a maioria das pessoas não precisa de mais do que isso".

Joshua Mangerson, que vive no Brooklyn, é um proprietário que achava sua situação bastante inconveniente. "Entediante" é como ele descreveu todas as vezes que teve que descer correndo da laje dois andares acima de seu apartamento todas as vezes que um convidado aparecia e ele precisava abrir a porta do prédio.

Chaves eletrônicas para os amigos

Mangerson, que é dono de uma empresa chamada Wavsys, que cria redes de serviço para celular, pensou em instalar um interfone na laje de casa, mas o preço da instalação passava de 2.000 dólares. E dar uma chave para cada um de seus visitantes não era uma alternativa viável, nem possível. Ao invés disso, gastou algumas centenas de dólares pelo KISI, um sistema de controle de acesso que, como a fechadura da Schlage, permite que os usuários controlem a fechadura com um smartphone e distribuam "chaves eletrônicas" para os visitantes.

"Sempre que eu e minha mulher fazemos alguma festa em casa, mando uma chave eletrônica para cada convidado", afirmou Mangerson. "Então, no dia seguinte eu vou lá e desativo todas".

Uma alternativa para cidades grandes

Bernhard Mehl, um dos fundadores da KISI, afirmou que a tecnologia é voltada aos habitantes de cidades grandes, muitos dos quais têm vidas agitadas, viajam com frequência e vivem em prédios de apartamento, onde é impossível esconder uma chave reserva debaixo de um vaso de flores na entrada da casa.

Essas pessoas têm muito medo de perderem as chaves, já que a porta da frente costuma ser a única entrada para a casa e os vizinhos são completos desconhecidos. Guardar as chaves-reserva de um amigo é um dever sagrado (em um episódio de "Seinfeld", Kramer quebrou "o acordo das chaves" ao ficar confortável demais no apartamento de Jerry, perdendo assim o privilégio de ter uma cópia da chave).

"Tentamos resolver os problemas da vida urbana", afirmou Mehl, que é alemão e teve essas dificuldades quando se mudou para Nova York, além de ainda precisar manter seu apartamento em Munique. "Esse é essencialmente um problema de estilo de vida de quem viaja muito".

Até mesmo alguns chaveiros profissionais estão relutantes em substituir as fechaduras tradicionais. Terry Whin-Yates, presidente e executivo chefe da Mr. Locksmith, empresa com sede em Vancouver, na Colúmbia Britânica, e defensor declarado do setor, afirmou que a porta da frente de sua casa conta com uma fechadura eletrônica da Schlage que se conecta a um aparelho de automação doméstica.

"Posso abrir a porta, observar o que está acontecendo em casa e acender e apagar as luzes com um simples toque do iPhone", afirmou Whin-Yates.

Yves Behar, designer de São Francisco, também não é fã do sistema mecânico, que acha desajeitado e fácil de perder. Mas a ideia de substituí-lo por um teclado ou outro aparelho que deva ser operado antes de entrarmos em casa não é suficientemente "mágico", segundo ele.

Sistema abre portas automaticamente

O August Smart Lock, sistema de controle de acesso desenvolvido pela empresa fundada por Behar, tem o tamanho e o formato de um disco de hóquei e usa tecnologia Bluetooth para se comunicar diretamente com o smartphone. A tecnologia funciona junto com as fechaduras atuais e, para usuários aprovados, a porta se abre automaticamente (o conceito é tão futurista que a data de lançamento já foi postergada diversas vezes, enquanto os problemas são resolvidos, embora Behar afirme que o sistema poderá ser comprado em breve).

"Para mim, o objetivo era tornar a experiência invisível", afirmou. "Você não precisa nem olhar para o telefone".

Naturalmente, não usar chaves levanta todo o tipo de dúvida prática. Como abrir a porta se o celular for perdido, ou roubado? Ainda é possível abrir a porta se a energia acabar ou a internet cair? E se a bateria do telefone acabar? As fechaduras estarão sujeitas à ação dos hackers? Todos os fabricantes de fechaduras inteligentes abordaram essas questões, mas nem sempre de forma satisfatória.

A August Smart Lock funciona mesmo sem energia ou internet, de acordo com Behar. E se o celular for perdido ou roubado, o usuário pode alertar um serviço que desativará o aplicativo August. Mas fazer isso exige a conexão com a internet. E assim como perder uma chave comum, ainda é preciso encontrar um parente ou amigo que ajude você a entrar em casa (ou usar uma chave à moda antiga, o que acaba com a função da tecnologia).

A KEVO, a fechadura por Bluetooth apresentada no ano passado pela Kwikset, ainda usa um cilindro para chaves mecânicas, afirmou Keith Brandon, diretor de soluções de acesso residencial da empresa.

Embora os usuários possam operar a fechadura com o smartphone, "é reconfortante para a maioria dos consumidores saber que ainda existe essa alternativa mecânica", afirmou.

Whin-Yates, o chaveiro profissional, faz exatamente isso. Além da fechadura eletrônica Schlage na porta da frente, ele instalou uma segunda fechadura mecânica Schlage para quando sai de casa por muito tempo.

"A chave mecânica ainda serve de backup", comentou Whin-Yates.

Ela pode estar desaparecendo, acrescentou, mas ainda será utilizada por muitos e muitos anos.

"Quando os arqueólogos encontrarem a nossa civilização", afirmou, "vão achar um punhado de ossos e um molho de chaves".

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