16 de novembro de 2014

Você acha que entende de economia? Conheça os erros mais comuns dos leigos

Nem toda informação positiva para a economia gera automaticamente um ciclo positivo.

Se você perguntar para alguém o que esta pessoa pensa sobre a economia do Brasil neste momento, ela certamente terá uma opinião. Muito provavelmente, a argumentação se parecerá com algo que você já leu ou viu em algum lugar e, principalmente, será acompanhada de um discurso inflamado, seja contra ou a favor do estilo de comando atual.

Ouvir os discursos e propostas dos candidatos à presidência, então é uma tarefa para fortes. Fica difícil entender se, afinal, a inflação está sob controle ou não, se o crescimento do País é ou não satisfatório ou se as empresas estão sendo menos ou mais lucrativas que no passado. Enquanto os economistas e as notícias parecem técnicas demais para a maioria, a opinião do vizinho ou do dono da venda soa carente de argumentos válidos.

Não se sinta mal, a culpa não é sua – é também de um erro sistêmico da nossa mente. Para David Leiser, israelense, presidente da divisão de Psicologia Econômica da Associação Internacional de Psicologia Aplicada, economia é um assunto inerentemente difícil e é natural que incorramos em vieses e outros atalhos mentais. “Sem algum treinamento em economia, é quase impossível entender”, explica.

Em pesquisas, a equipe do israelense já entrevistou mais de 2 mil pessoas de diversos países, além experimentos e conversas de maior profundidade. Em entrevista exclusiva, Leiser pontuou as principais características da visão do leigo sobre a economia. “Quando o público comum, não especializado, debate o assunto, acaba simplificando demais ou utilizando muletas”, comenta. 

Complicado? Veja quais são os seis principais erros de avaliação dos leigos sobre a economia.

Erro 1: Boas novas atraem boas novas

Nem toda informação positiva para a economia gera automaticamente um ciclo positivo. Um exemplo disso é a relação entre emprego e a inflação. Quando a taxa de desemprego cai, mais consumidores vão ao mercado, elevando a demanda – enquanto a oferta não se acompanha, os preços disparam. Ou seja, bons índices de emprego tendem a elevar a inflação.

Segundo Leiser, esse é o principal atalho mental encontrado em suas pesquisas à frente do assunto. “As pessoas acham que os bons indicadores andam juntos, e os indicadores ruins também, na realidade não é sempre assim.”

Erro 2: Cada macaco fica em um galho

Exatamente por conta dessa falha no olhar sobre o todo, as análises são frequentemente estreitas e pouco equilibradas. “As pessoas ainda não entendem a economia como um sistema em funcionamento”, explica o especialista. Ou seja, o assunto da moda é o que vai recortar o seu ponto de vista, seja inflação, desemprego ou investimentos. Sua percepção sobre a economia estará inevitavelmente vinculada ao último indicador que você ouviu do vizinho ou leu no noticiário.

Erro 3: Os números não mentem

A pouca familiaridade com a rotina da economia faz com que cada quadro seja avaliado individualmente e crie uma visão extremista – seja ela bom, ou ruim. Exemplo: embora há meses se fale sobre bolha imobiliária no País, ainda não existe consenso de que ela exista – nem Robert Shiller, especialista que anteviu a bolha que disparou uma crise sem precedentes nos Estados Unidos, garabte a existência desse cenário por aqui.

Adriana Rodopoulos, economista especializada em Psicologia Econômica considera esse comportamento extremista muito típico do leigo. “Esse é o movimento da pessoa que constrói uma opinião sem grande embasamento. Qualquer assunto econômico tem uma zona muito cinzenta entre o preto e o branco”, aponta. “A pessoa tenderá a escolher o ponto de vista que favoreça sua posição política, a qual é invariavelmente empática.”
Bovespa.

Erro 4: Crises econômicas são morais

O especialista observou que, mesmo quando leigos e especialistas têm a mesma avaliação final sobre um fato, dificilmente as justificativas para essa leitura são as mesmas. Em uma pesquisa concentrada na percepção de europeus da crise de 2009, os especialistas responsabilizaram o ciclo econômico pela catástrofe. Os leigos, por sua vez, apontaram questões éticas e morais como causadoras de uma das maiores crises da história do continente. A discussão econômica, que já está contaminada pelas opiniões políticas, mergulha em um poço de emoções que deixam os números bem longe da racionalidade matemática.

Erro 5: O desespero do copo meio vazio

Disso vem a preferência pela adoção de opiniões com avaliações negativas frente ao cenário econômico. Leiser também identificou maior pessimismo entre os leigos que entre os especialistas em economia.

O economista e consultor financeiro André Massaro concorda. “Na interação social, as pessoas buscam assunto fazendo críticas para evitar o vazio da comunicação. O indivíduo mal se interessa pelas próprias finanças, não entende nada de economia e dá opinião sobre tudo. É o ambiente perfeito para a propagação do alarmismo”, pontua. “Culpa pessoas e instituições erradas, associa-se fatos que têm pouca relação. É um poço de vieses.”
Urso e touro: símbolos do pessimismo e do otimismo no mercado de capitais.

Erro 6: Sua opinião não muda nada

Engana-se quem acha que a opinião de uns e outros não muda o curso da economia. Um dos movimentos mais conhecidos do mercado de capitais é o efeito de manada. Este é um dos principais traços do comportamento humano – o ímpeto pela camuflagem dentro de grupos. André Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimentos, trabalha no mercado de capitais há anos e garante. “Não tem nada de racional nos movimentos da bolsa”, diz.

As grandes altas ou grandes baixas da bolsa não representam uma reação à condição econômica, mas principalmente a personificação dos investidores em uma única intenção: o benefício próprio. “Se dependesse da bolsa, era melhor que tivesse alta da gasolina todos os dias, por exemplo. Mas isso não é bom para todo mundo”, explica o economista.

A percepção, em massa, pode mudar o destino – quem garante, é o próprio pesquisador, David Leiser. "A avaliação negativa em massa afeta a confiança nas instituições e recuo de expectativas, o que transforma as atitudes cotidianas do cidadão comum, que reduz as compras, recolhe os investimentos, entre outros."

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