3 de abril de 2012

'Há empresários que apunhalam mais rápido pelas costas do que mafiosos'

Ex-mafioso Louis Ferrante fala, em entrevista exclusiva ao iG, sobre como foi largar o crime e virar guru dos negócios.
   Ex-mafioso Louis Ferrante adaptou lições do mundo do crime para a vida corporativa.

Ele começou a carreira aos 12 anos, praticando pequenos furtos. Depois, passou a cuidar de um desmanche de carros e, aos 17, roubou o primeiro de muitos caminhões. Com esse currículo, Louis Ferrante acabou chamando a atenção da família mafiosa Gambino, de Nova York. Porém, depois de passar oito anos e meio na prisão, ele decidiu repensar seu destino. O fruto desse esforço é o livro “O Poderoso Chefão Corporativo” (Editora Saraiva, R$ 34,90), no qual dá dicas de como aplicar as lições da máfia no mundo “legal”. 

Achou forçado? Mas, para Lou – como gosta de ser chamado –, a associação entre máfia e mundo dos negócios é mais do que natural. “A máfia é estruturada e administrada quase identicamente a uma corporação legítima. Se você tirar a violência, a natureza humana é a mesma no submundo e no mundo normal”, afirma o ex-mafioso, em entrevista exclusiva. 

Nascido no distrito nova-iorquino do Queens, o agora palestrante e consultor motivacional, com 42 anos, diz que é possível aprender várias lições valiosas ao estudar a natureza subjacente de criminosos bem-sucedidos. “Há mais homens de negócios que vão te apunhalar pelas costas mais rapidamente do que a maioria dos mafiosos”, diz. 

Seu livro traz 88 lições da máfia que podem ser aplicadas às grandes empresas, mas algumas delas parecem distantes do mundo corporativo. A quinta – “A máfia não faz anotações: aguce a memória” –, por exemplo, lembra que os criminosos não possuem registros, seja em notebooks, cadernos ou arquivos. Mas fica difícil imaginar qualquer homem de negócios que decida decorar todos os seus contratos ou parceiros comerciais. 

Outras dicas, porém, são válidas, como as lições sobre como ascender na hierarquia da organização – criminosa ou não –, a importância das alianças e a lealdade aos superiores.

Reflexões na cela

“O Poderoso Chefão Corporativo” é a segunda incursão de Lou no mundo literário. Ele atribui aos anos nos quais esteve encarcerado a descoberta da paixão pela leitura e pela escrita. “A prisão me ofereceu um tempo solitário para pensar, foi onde li um livro pela primeira vez na vida. Me apaixonei pela leitura”, diz Lou. Foi dentro de uma cela que surgiu a ideia de seu primeiro livro, Unlocked, com memórias da máfia. 

“O primeiro livro foi mais difícil no sentido de que eu tive de reviver lembranças ruins do meu passado. O segundo livro foi muito mais fácil emocionalmente, pois eu lidei com as coisas boas que eu aprendi na máfia, e ele ensina como aplicá-las na vida legal”, afirma o ex-mafioso, que faz questão de ressaltar que atuava na parte “administrativa” da organização criminosa na Família Gambino, uma das cinco maiores de Nova York e cuja trajetória inspirou o filme "O Poderoso Chefão". 

“Eu nunca fui um assassino. A família tem homens que fazem isso. Eu era conhecido como um especialista em roubo, e liderava uma equipe de assaltantes”, diz. Ele conta que entrou para o mundo do crime pelo status. “Mafiosos eram respeitados em meu bairro, e um monte de gente da minha idade queria ser como eles”, afirma. 

O ex-mafioso quer seguir a carreira de escritor, pela qual já recebeu até elogios de outros companheiros que continuam na ativa.

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