7 de junho de 2013

Cooperativas brigam pela regulamentação de aplicativos de chamada de táxi

Apontados pelos clientes como uma ferramenta que torna mais rápida a localização de um táxi, os aplicativos instalados em smartphones também ganharam opositores. Cooperativas de táxis têm se sentido prejudicadas pelos novos concorrentes – que cobram do taxista até R$ 2 por corrida repassada. Já as cooperativas, que têm como principal vantagem a central de rádio-chamadas, recebem valores que variam de R$ 500 a R$ 2 mil por mês de seus associados.

Ameaçadas pelo avanço da concorrência, as cooperativas decidiram recorrer à Prefeitura de São Paulo na tentativa de impôr restrições aos aplicativos. 

A Associação Brasileira das Cooperativas e Associações de Táxis (Abracomtaxi), por meio da Artasp (Associação de Rádio-Táxis de São Paulo) e do Sinditaxisp (Sindicato dos Taxistas Autônomos de São Paulo), entraram com um pedido junto ao Departamento de Transporte Público, ligado à Secretaria Municipal de Transportes, para a regulamentação desses sistemas de tecnologia.
                            Cooperativas pedem regulamentação de aplicativos de táxi.

“Estamos lutando para que este serviço seja regulamentado pelo poder público, não para que eles não existam”, afirma o secretário da Abracomtaxi e presidente da cooperativa Use Táxi, Eder Luz. “Não concordamos com inúmeras empresas criando aplicativo e trabalhando na ilegalidade. Se as cooperativas passam pelo crivo da fiscalização do poder público, os aplicativos também devem passar”, diz.

O representante da Abracomtaxi argumenta que as cooperativas, diferentemente dos aplicativos, garantem a segurança dos serviços prestados tanto para o taxista quanto para o passageiro, por exemplo, em casos de trote e esquecimento de objetos no carro. Além, segundo ele, de arcar com todos os impostos e direitos trabalhistas de cada motorista.

“Nós cooperativas pagamos impostos, ISS, PIS/Cofins, recolhemos INSS do motorista, devemos obrigações à prefeitura e esses aplicativos trabalham totalmente informais. Nas cooperativas existe um controle, uma formação do motorista que nesses casos não existe”, explica.

Eder Luz, no entanto, ressalta que a prefeitura está apática perante essa situação e lamenta: “Nós temos cerca de 30 anos de tradição e conhecimento. De repente viramos um simples serviço de táxi”. “A nossa seriedade está indo por água abaixo”.

A Secretaria de Transportes confirma que o uso dos aplicativos está em estudo pelo Departamento de Transportes Públicos (DTP). Segundo a pasta, neste ano o DTP já recebeu representantes de sindicatos, das empresas de táxi e de rádio táxi e também de algumas empresas que produzem ou administram esses aplicativos, com o objetivo de registrá-los.

“Como o assunto é relativamente novo, estamos estudando a questão e os impactos que esses aplicativos produzem em toda a cadeia dos táxis na cidade, como empresas de táxi e rádio taxi, para verificar a necessidade de alguma eventual regulamentação legal da questão”, afirma a secretaria, em nota.
                             Taxibeat: aplicativo mostra relação de taxistas disponíveis.

Apesar da expansão dos aplicativos de smartphone para chamar táxi, Eder Luz garante que as novas tecnologias não estão provocando a saída de taxistas das cooperativas.

Para o diretor-presidente da Coopertax, Daniel Francisco de Sales, é importante que as cooperativas se adequem às novas tecnologias para não perder espaço no mercado. E avalia: “A tecnologia que traz uma facilidade para o usuário. As grandes rádio táxi já estão desenvolvendo o próprio aplicativo”.

Prós e contras

Como em toda briga, cada lado faz sua defesa. De acordo com os representantes de empresas de aplicativo, a utilização destas ferramentas tem seguido em alta, sobretudo por causa da agilidade para se chamar o táxi e da segurança do serviço, já que exige o cadastro tanto de seus usuários quanto de seus motoristas. Outros atrativos são o aumento de renda e da independência do taxista em relação às empresas de rádio-chamada.

“Com o aplicativo, o taxista só paga pela corrida que ele fizer. Com a cooperativa, ele já sai de casa devendo”, diz o gerente comercial do aplicativo Taxibeat, Sandro Barretto.

Segundo Barretto, a aceitação do aplicativo no mercado foi a melhor possível. “Ele trouxe um novo modelo para o serviço de táxi e uma nova ferramenta para o taxista gerar mais corrida, de uma maneira mais independente e econômica”, ressalta o diretor. Barretto é contrário à regulamentação.
                                     Easy Taxi: aplicativo mostra local exato do usuário.

“A gente já viu isso acontecer em outras cidades do mundo, como Nova York, e não deu resultado por um motivo simples: nós somos uma empresa de tecnologia, criamos um aplicativo, uma ferramenta”.

Barretto explica que a Taxibeat, assim como outros sistemas de aplicativos, não é uma empresa de táxi. E caso o serviço seja regulamentado, o que acontecerá é que o aplicativo apenas continuará atuando no sentido de facilitar a prestação de serviços de táxi já legalizados na cidade.

Atualmente, segundo Barretto, a Taxibeat conta com quase 6 mil taxistas cadastrados, entre Rio de Janeiro e São Paulo, com adesão diária de aproximadamente 100 motoristas nas duas cidades. Já foram feitos, de acordo o gerente, 150 mil downloads.

Para o CEO da Easy Taxi, Tallis Gomes, os aplicativos se tornaram uma ferramenta essencial para o mercado de táxi. “É uma tendência sem retorno”, afirma.

Para Gomes, bloquear a entrada deste tipo de tecnologia seria concorrência desleal e uma tentativa de reserva de mercado por parte das cooperativas. No entanto, o executivo ressalta que ainda é necessário regulamentar os aplicativos.

“Regulamentar é importante em qualquer coisa. Tem muitos aventureiros entrando nos [mercados de] aplicativos”, diz. “Mas regulamentar para monopólio político, não”, pondera.

Hoje, a Easy Táxi é uma empresa de aplicativo com cerca de 1,5 milhão de passageiros, 25 mil taxistas e gera cerca de 500 mil corridas mensais.
                         99Taxis: aplicativo mostra distância entre passageiro e taxista.

Sócio da 99Taxis, Paulo Veras diz que as empresas de aplicativos não fazem campanha para que os taxistas saiam de suas cooperativas. Ele afirma que a maior parte de seus motoristas são autônomos e mostra as vantagens da empresa: “Nosso serviço não é pago, é menos burocrático, é muito cômodo. Ele [o taxista] usa como quiser e não tem obrigação conosco”.

Em São Paulo, a 99Taxis já conta com 200 mil passageiros cadastrados, 5 mil táxis e promove 100 corridas ao mês.

Opinião de quem usa

Antônio (que não quis se identificar), que trabalha para uma cooperativa da capital, já vai para o terceiro telefone móvel. Além do celular convencional e do smartphone pelo qual recebe informações da base sobre as corridas, comprará mais um aparelho só para instalar o aplicativo da 99Taxis.

"A cooperativa não fala nada, pois todos os equipamentos no carro são meus. Então eu poderia instalar [o aplicativo] neste aqui [com o qual se comunica com a cooperativa]", diz ele. "Mas para evitar problema eu vou comprar outro celular", diz ele.

Custos

A 99Taxis não possui custos nem para o usuário, nem para o motorista. A ideia da empresa é manter o serviço gratuito e faturar com as comissões por meio de pagamentos via cartão de crédito. Neste caso, 90% do valor da corrida ficará com o taxista. A Taxibeat e a Easy Taxi também não repassam gastos para os passageiros, porém é cobrado R$ 2 por corrida do motorista.

ONDE FUNCIONA
Easy TaxiTaxibeat99Taxis
Rio de JaneiroRio de JaneiroRio de Janeiro
São PauloSão PauloSão Paulo
Belo HorizonteFrança
Porto AlegreGrécia
BrasíliaNoruega
SalvadorRomênia
Recife
Fortaleza
Goiânia
Curitiba
Bogotá (Colômbia)
Lima (Peru)
Santiago (Chile)
Caracas (Venezuela)
Buenos Aires (Argentina)
Cidade do México (México)
Seul (Coreia do Sul)
Sejong (Coreia do Sul)
Suncheon (Coreia do Sul)
Yeosu (Coreia do Sul)
Lagos (Nigéria)
Malásia
Dentre as cooperativas, a Use Táxi cobra R$ 34,5 mil pela adesão do taxistas, mais a taxa de manutenção no valor de R$ 600 mensais. Para participar da Coopertax é preciso pagar uma luva de cerca de R$ 40 mil, além de R$ 660 mensais pela manutenção.

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