11 de agosto de 2013

Empresas pré-operacionais sentem impacto do 'efeito Eike'

O colapso na bolsa de valores dos negócios do grupo EBX, do Eike Batista, tiveram impacto negativo sobre o financiamento de companhias pré-operacionais, categoria na qual se enquadram as empresas X.
      Eike Batista participa de cerimônia na bolsa: investimentos em compasso de espera.

Depois da perda de valor de mais de 90% das ações da petroleira OGX e também da HRT devido à expectativas frustradas com relação aos projetos das empresas, muitos investidores, na visão de analistas, se retraíram para investir em companhias com estas características. Um cenário econômico com mais incertezas não colabora com este apetite.


A mineradora pré-operacional Manabi já havia pedido em agosto do ano passado o cancelamento de sua primeira oferta de ações no Brasil e no Canadá devido às incertezas econômicas.

A dificuldade não é registrada apenas com projetos maiores, na área de energia e petróleo.

Alexandre Azambuja, da gestora de investimentos Templars Trust, que pretendia colocar diversas empresas pré-operacionais na bolsa, com menor porte e de setores como tecnologia, mudou seus planos. "Já preferi vender ativos de três companhias e ficar com uma parte menor do negócio. No modelo convencional, perco a alta que as ações poderiam proporcionar". 

Em avaliações feitas pela consultoria Técnica, o retorno pedido por investidores em ofertas de ações de empresas de primeira e segunda linha subiu 24% desde dezembro de 2012 até julho deste ano. A taxa de retorno envolve conceitos como o custo de capital próprio (risco Brasil) e de terceiros (investidores).

No caso de empresas pré-operacionais, que envolvem mais riscos, o retorno pedido aumentou ainda mais. "Portanto, elas sofrem mais com isso. Essa taxa mais alta pode inviabilizar muitos projetos", diz o analista chefe Renato Assunção Campos, da Técnica. "O efeito X contribuiu para isso". 

Como consequência da atenção maior dada por investidores ao preço de lançamento das ações, a operação acaba sendo adiada, diz Harold Thau, sócio diretor da Técnica.

Há também quem cite a falta de maturidade do mercado para projetos do tipo. Em segmentos como o de petróleo, Thau aponta que o investidor deveria saber que o investimento é de alto risco, com maturação de longo prazo. 

Além disso, no Brasil foram poucos os projetos pré-operacionais que captaram recursos na bolsa de valores. "Hoje é mais fácil para empresas com estas características recorrerem a fundos de participações", conclui Campos.

Porém, Thau lembra que os fundos cobram mais exigências. "Eles financiam projetos pré-operacionais desde que sejam bem estruturados, que tenham fluxo de caixa que demonstre sua capacidade de repagamento".

Além de cobrarem taxa de retorno maior, estes investidores geralmente participam de forma mais ativa nas empresas, inclusive com cadeira em conselhos. 

Sem saídas 

A área de avaliação de investimentos da consultoria FTI está parada há dois meses, conta o diretor administrativo Eduardo Sampaio. "Viramos um verdadeiro hortifrutti: tem muito pepino e abacaxi para descascar no mercado".

Na visão do executivo, a dificuldade para financiamento de projetos não está apenas no lançamento de ações na bolsa de valores, mas também em fundos voltados para empresas em estágio inicial e também grandes projetos. "Os médios empresários que investem em capital semente não estão em boas condições financeiras. E os grandes fundos estão olhando com muito carinho para o que têm na carteira agora, diante de um mercado recessivo".

Sampaio acredita que para empresas de petróleo e energia, a opção, além da bolsa de valores, são os fundos internacionais. Mesmo eles, aponta, estão preferindo mais segurança, como compra de títulos públicos de países mais desenvolvidos. 

Financiamento bancário

Para quem busca financiamento por meio de instituições financeiras, as taxas cobradas por bancos comerciais "não fecham a conta", e bancos de investimento estão com pouco apetite para ativos do tipo.

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) surgem então como opções. 

Mas o fato do BNDES ter financiado empresas do grupo EBX pode interferir em aprovações futuras, dizem consultores. "Quem no banco vai querer dar um cheque em branco para investir em empresas do tipo a partir de agora?", diz uma fonte que não quis se identificar.

O BNDES diz que não divide seu histórico de financiamentos por empresas operacionais e pré-operacionais, e que pode investir em negócios com esta característica dependendo do caso.

O financiamento é feito tanto por meio de fundos de apoio à inovação, os Criatecs, quanto por financiamento de projetos específicos. Nestes casos, o banco trabalha com garantias reais, como o próprio projeto financiado, e também fiança bancária. 

Resta às empresas não se precipitarem, diz Thau. "O caminho é deixar o registro pronto na Comissão de Valores Mobiliários e operação pré-desenhada. É interessante realizar uma operação de divida estruturada (emissão de títulos) antes de ir ao mercado".

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