27 de fevereiro de 2014

Na Finlândia, ex-funcionários da Nokia criam novo rival para o Android

HELSINQUE – Marc Dillon ainda se lembra da angústia que sentiu quando a Nokia divulgou o cancelamento de um projeto de software que ele e centenas de outros desenvolvedores levaram anos para criar.

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                  Marc Dillon e Stefano Mosconi nos escritórios da Joola, em Helsinque.

Foi no começo de 2011, e a Nokia, a gigante finlandesa dos telefones celulares, estava lutando para competir com a ascensão repentina da Apple e da Samsung no mercado mundial dos smartphones. Em resposta, o diretor executivo da Nokia, Stephen Elop, encerrou os projetos da empresa para o seu próprio sistema operacional e se juntou à Microsoft para se concentrar na construção de telefones com sistema Windows.

"Eu quase vomitei quando ouvi a notícia", disse Dillon, um engenheiro americano que mora na Finlândia, que foi demitido depois da mudança de estratégia da empresa. "A Nokia fez um tantas coisas grandiosas e por tanto tempo. Não queríamos ver essa parte da história morrer".

Assim, Dillon e três outros ex-executivos da Nokia assumiram a responsabilidade de provar que seus antigos chefes estavam equivocados.

Durante os últimos três anos, com a ajuda de cerca de 20 milhões de dólares de investimento externo, eles criaram a Jolla, uma empresa de 100 funcionários, a maioria sendo ex-engenheiros da Nokia, a fim de desenvolver o sistema operacional que a Nokia havia descartado. A meta deles é competir com o Android, o software do Google que domina a telefonia móvel. No final do ano passado, eles terminaram a primeira parte do projeto, lançando um smartphone pelo sistema operacional de plataforma aberta, o Sailfish.

Sailfish poderá ser licenciado

As ambições da Jolla – pequeno barco em finlandês – são duas.

Ao lançar o seu aparelho de telefone personalizado, a empresa quer ilustrar a demanda pelo dispositivo ao vendê-lo para os consumidores, principalmente, dos mercados ocidentais, ávidos por experimentar a mais recente engenhoca.

Embora a empresa ainda seja pequena no mercado mundial de smartphones, as esperanças de longo prazo da Jolla estão fixadas na promoção do seu software Sailfish a outros fabricantes de celulares, com quem a empresa finlandesa espera produzir acordos de licenciamento.
                             Sistema Sailfish poderá ser usado por vários fabricantes.

"O telefone mostra ao mundo que conseguimos fabricar um produto", disse Sami Pienimaki, outro cofundador da Jolla, no escritório de desenvolvimento da empresa em Tampere, que fica duas horas de trem ao norte de Helsínquia, a capital da Finlândia. "Contudo, o sistema operacional é a joia do projeto".

Para os outros fabricantes de telefones, particularmente os que vendem telefones em mercados de rápido crescimento como a China, o papo de venda é simples: iremos lhe ajudar a se destacar na multidão.

"Todos estão procurando alternativas já que poucos fabricantes estão ganhando dinheiro com o Android", disse Stefano Mosconi, o cofundador italiano da Jolla e o principal funcionário de tecnologia, nos escritórios da empresa na Helsínquia central, que anteriormente abrigavam um laboratório de pesquisa da Nokia. "Sabemos que não podemos entregar 200 milhões de aparelhos da noite por dia, mas os fabricantes de telefone precisam de novidade, e isso podemos oferecer".

Mercado dominado por gigantes

Apesar dos planos ambiciosos da Jolla, ela enfrenta um desafio. O mercado mundial de smartphones tornou-se um duopólio do Android do Google e do iOS da Apple, que representaram quase 95 por cento dos 1 bilhão de aparelhos vendidos no ano passado, segundo a empresa de pesquisa, Strategy Analytics. E a Microsoft, outra gigante da tecnologia, está duplicando os smartphones, fazendo os toques finais em um acordo de 7,4 bilhões de dólares para comprar a divisão de celulares da Nokia.

Vários outros fabricantes de software também estão tentando competir por uma fatia das vendas mundiais de smartphones.

Confrontados com a concorrência dura, a Jolla está enfrentando esses desafios de cabeça erguida. A empresa abriu a sua loja de aplicativos para desenvolvedores, porém, o software também precisa permitir que os clientes rodem os programas populares no Android tais como o WhatsApp e o Twitter.

O acordo inclui uma parceria com a gigante da Web russa, a Yandex, que dá aos usuários do Jolla acesso a sua loja de aplicativos com mais de 80.000 mil programas em Android. A Jolla, contudo, ainda tem de conseguir um acordo semelhante com a Play store do Google, que é maior.

"Se não tivéssemos acesso ao Android, ninguém teria comprado o nosso aparelho", disse Mosconi da Jolla. "Agora podemos mostrar as pessoas que elas podem utilizar os mesmos aplicativos disponíveis em outros telefones".

Foco em emergentes

Bem parecido com os seus rivais mais estabelecidos, a Jolla está direcionando o seu software aos consumidores das economias em desenvolvimento que estão atualmente trocando os seus aparelhos baratos por aparelhos mais sofisticados.

A expectativa é de que os mercados como a China e a Índia divulguem um crescimento de dois dígitos na venda de smartphones este ano, a maioria de aparelhos Android de baixo custo.

Todavia, os analistas afirmam que as operadoras locais como a China Mobile estão procurando maneiras de diferenciar seus aparelhos e serviços dos seus concorrentes. A utilização de novos sistemas operacionais pode ajudar a atrair clientes que ainda precisam se acostumar com o Android ou o iOS.

Experiência de uso é diferencial

A experiência em software da Jolla é acentuadamente distinta em relação aos seus rivais maiores.

O aparelho da Jolla é projetado para deslizar pela tela para alternar entre os aplicativos; o sistema operacional não utiliza um botão home para a navegação. Menus suspensos em cada programa oferecem atalhos para as funções populares como enviar uma mensagem de texto ou verificar o e-mail.

E programas abertos – exibidos como mini-ícones na tela home – se atualizam automaticamente. Isso permite que os usuários mudem as músicas no player do aparelho ou encontre o número de um contato sem abrir o aplicativo em si. Os telefones também têm tecnologia embutidas em capas traseiras intercambiáveis que alteram atributos do software.

Embora a iniciante de celulares tenha vendido menos de 100.000 aparelhos mundialmente desde que o modelo foi lançado no ano passado, muitos na comunidade de tecnologia de Helsínquia afirmam que o sistema operacional e o aparelho da Jolla, que custa no varejo cerca de 550 dólares, mostra que a indústria de telecomunicação da Finlândia ainda pode concorrer em escala mundial.

Quando a Jolla começou a vender seus telefones em novembro, por exemplo, uma fila de clientes esperando fazia curvas ao redor da Pop Up store da empresa na Helsínquia central apesar das temperaturas congeladas.

E Peter Vesterbacka, integrante da equipe de gerenciamento da criadora de jogos finlandesa, Rovio, orgulhosamente exibiu o seu aparelho da Jolla completo, com uma capa encomendada do Angry Birds. O Angry Birds é um jogo da Rovio.

"Muitas pessoas querem que eles se deem bem", disse Pekka Koponen, ex-executivo da Nokia que atualmente administra uma empresa de consultoria em tecnologia em Helsínquia. "Quero crer que ainda resta inovação na Finlândia".

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