30 de maio de 2012

Às vésperas dos 70 anos, Vale corre para renovar logística

Aumento de produção pela mineradora no Brasil e África tem o desafio de reduzir diferença de US$ 13 no custo do frete até a China.

Em 1º de junho, a Vale completará 70 anos de fundação. Transformada nas últimas duas décadas de antiga estatal à maior empresa privada do mercado mundial de minério de ferro, ela acumula pela frente uma série de desafios. Entre eles, consolidar a diversificação de portfólio com fertilizantes, níquel e carvão e acelerar projetos de logística para diminuir um custo incomodo: a diferença atual de US$ 13,30 no preço do frete por tonelada entre o Brasil e a Ásia, onde está seu maior cliente, a China, em relação às concorrentes australianas BHP Billiton e Rio Tinto.

“O mundo do aço, do minério de ferro, está crescendo na Ásia. Hoje nós pagamos US$ 21 dólares de frete por tonelada, a Austrália paga US$ 7,70. Quando esse frete foi US$ 100 (no pré-crise 2008), a Austrália ficava US$ 50 na nossa frente. Nossa estratégia é ter frete barato para a China”, afirma o diretor de logística e pesquisa mineral, Humberto Freitas.
Vale Rio de Janeiro atraca no Porto de Tubarão, em Vitória (ES): foco no segmento de logística.

A encomenda de 35 supernavios com capacidade para transportar 400 mil toneladas, os Valemax, foi feita de olho na redução desse frete. A proibição de Pequim para a atração das embarcações para proteger a operadora chinesa de carga Coosco, contudo, adia os planos da mineradora de reduzir a pressão do frete em seus custos.

Freitas, porém, se mostra confiante na expectativa da China liberar seus portos aos Valemax. “Logística é o seguinte: o que tem lógica vai acontecer. Eu não tenho dúvidas disso (liberação dos portos chineses). Talvez na diretoria eu seja o menos preocupado com isso”, diz o executivo.

Segundo o diretor, o mercado ainda não entendeu realmente o motivo da encomenda dos navios por US$ 2,8 bilhões a estaleiros sul-coreanos e chineses, em 2008, capítulo importante no descontentamento do Planalto com o ex-presidente da empresa, Roger Agnelli, acusado pelo então presidente Lula de investir demais fora do país.

“Nossa estratégia não é ter navios”, diz, sobre o fato de a empresa ser dona de 19 unidades dos 35 Valemax encomendados. “Naquele momento (crise 2008) que tivemos de implementar essa estratégia, precisávamos contratar navios com um frete baixo e contratos de 25 anos. Compramos alguns navios e vários armadores nos procuraram para construir embarcações para nós. Então, vamos ter alguns navios que qualquer armador que quiser pode levá-los. Nós daremos um contrato para eles operarem esses navios”, comenta.

Freitas afirma que a falha no supercargueiro Vale Beijing, o primeiro das 35 unidades, cujo problema estrutural o fez encalhar após carregamento no porto de São Luis, no Maranhão, foi um episódio pontual já assumido pelo armador sul-coreano STX Panocean, proprietário da embarcação.

“Foi um problema técnico daquele navio. Ele tem um conjunto de braços que fazem a estrutura das embarcações, presos ao casco. Faltou um desses braços. Não sei afirmar se faltou no projeto ou na construção”, diz.

Os outros Valemax seguem no plano logístico da mineradora, que busca agora alternativas para estacioná-los próximo do litoral chinês. Entre elas, a instalação de uma segunda unidade de transferência flutuante nas Filipinas – este tipo de navio é usado para transbordo de carga do supercargueiros para embarcações menores. “Essa estação de transferência vai exercer um papel de ‘alívio’. Um navio de grande porte vai até ela, tira de 50 mil a 100 mil toneladas, e vai para o porto final”, explica o diretor de ferrosos e estratégia José Carlos Martins.

A redução da diferença no custo do frete em relação às concorrentes BHP e Rio Tinto pode ser crucial para recuperar parte dos US$ 30,6 bilhões em valor de mercado perdidos pela Vale no primeiro ano de gestão do atual presidente, Murilo Ferreira, completado neste domingo. Não à toa, a mineradora investe US$ 1,371 bilhão na construção de um entreposto marítimo no estreito de Malacca, no oeste da Malásia.

A unidade, que terá terminal portuário e centro de distribuição com capacidade para estocar 30 milhões de toneladas de minério em Teluk Rubiah, província na região desértica de Perak, dará à Vale acesso aos oceanos Índico e Pacífico por meio de Malacca, por onde irá acessar o Mar da China Meridional - o pedaço do Pacífico que banha o Sudeste Asiático.

“Com a Malásia, a nossa situação fica totalmente resolvida”, afirmou Martins, em almoço com jornalistas na sexta-feira, na sede da empresa, no Rio de Janeiro.

A inauguração de um centro de distribuição no início deste ano em Omã, no Oriente Médio, após aporte de US$ 1,36 bilhão também dará suporte à estratégia de acessar a China com um custo mais competitivo a partir da carga transportada pelo supercargueiros fracionada em embarcações de menor porte. “Essas opções que estamos desenvolvendo permite operar os 35 navios sem problemas”, diz o executivo da Vale.

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