31 de julho de 2012

Tullow Oil encontra petróleo onde ninguém mais procurou

Companhia britânica fundada por contador de empresa sem experiência no ramo transforma-se em gigante na exploração de áreas ignoradas por rivais em mais de 20 países.

Nenhuma fonte comercial de petróleo havia sido descoberta no Quênia até que a Tullow Oil começou a fazer escavações nas ardentes savanas no Vale Rift, a cerca de 400 quilômetros a nordeste de Nairóbi.

Em maio, a empresa afirmou que seu primeiro poço produziu resultados promissores, revelando terras com mais petróleo do que outros poços abertos na região geologicamente similar do Lago Albert, em Uganda, onde a Tullow descobriu um campo com 1,1 bilhão de barris em 2006.

Se a fonte no Quênia tiver as mesmas proporções da de Uganda, a Tullow terá sido responsável pela abertura de nada menos que quatro novos campos de petróleo nos últimos seis anos. Três deles estão na África subsaariana, incluindo o gigantesco campo de Jubilee, nas águas profundas na costa de Gana. O quarto, localizado na costa da Guiana Francesa, na América do Sul, foi a recompensa de uma aposta feita no mesmo tipo de areias petrolíferas encontradas nas águas do oeste africano, e que também existem na costa da América Latina. Isso tudo é fruto de pura sorte? Os concorrentes acreditam que não.

"Com base em seus registros, é preciso admitir que esses resultados são muito bons", afirmou Neil Piggott, um explorador veterano, que agora chefia as explorações da BP no Brasil.
Aidan Heavey, à direita, fundador e presidente da Tullow Oil, com o diretor de exploração, Angus McCoss na sede da empresa em Londres, na Inglaterra.

Com o nome de uma pequena cidade nos arredores de Dublin, a Tullow foi fundada em meados dos anos 1980 por Aidan Heavey, que era contador na empresa aérea irlandesa Aer Lingus. Ele ficou intrigado com a ideia de trabalhar nos pequenos campos de petróleo africanos, ignorados pelas grandes empresas. Ele sabia muito pouco sobre o setor, mas um amigo no Banco Mundial o ajudou a obter acesso a uma mina de gás natural no Senegal.

Sob o comando de Heavey, que continua a ser o CEO, a empresa com sede em Londres se transformou em uma gigante da exploração petrolífera, com operações em mais de 20 países, um valor de mercado de US$ 22 bilhões e uma equipe de exploração com cerca de 200 geólogos e geofísicos. A Tullow planeja gastar um US$ 1 bilhão este ano com explorações e avaliações, um valor quase tão grande quanto o lucro operacional da empresa em 2011.

A despeito da inexperiência inicial de Heavey, sua empresa obteve resultados superiores aos de boa parte de seus maiores concorrentes no que diz respeito às novas descobertas. "Isso não significa que eu seja um bom geólogo", afirmou Heavey, de 59 anos, em entrevista por telefone. "Eu simplesmente fiz o que sabia fazer de melhor e escolhi as melhores pessoas para trabalhar comigo."

A produção da empresa está crescendo rapidamente, mas ainda é pequena, com um total de 78.200 barris de petróleo e equivalentes de petróleo em 2011.

Os analistas colocam a Tullow na vanguarda de um grupo inovador de empresas petrolíferas que também inclui as americanas Anadarko Petroleum e Kosmos Energy.

"O que é incrível a respeito da Tullow em relação às outras empresas é seu histórico extremamente consistente nas bacias fronteiriças, onde ninguém encontrou nada, transformando-as em centenas de milhões de barris", afirmou Rob West, analista da Bernstein Research, em Londres. "Seu desempenho é absolutamente incrível."

A Tullow extrai petróleo de cerca de 70% das fontes que explora e avalia, uma média duas vezes maior que a do setor, segundo West.

O desafio para a Tullow é que, à medida que a empresa cresce e tenta produzir petróleo – além de apenas encontrá-lo – ela encara cada vez mais problemas e custos. Por exemplo, a empresa enfrentou atrasos e precisou pagar US$ 472 milhões em impostos para Uganda, valor do qual ela ainda está recorrendo.

"Eles querem ser como a Shell. Mas é difícil fazer isso com sucesso", afirmou Stuart Joyner, analista da Investec Securities, em Londres.

O chefe de exploração da empresa, Angus McCoss, que veio da Royal Dutch Shell para a Tullow em 2006, afirmou que a Tullow ignorou os dogmas do setor e fez as coisas "do seu próprio jeito".

A gigante petrolífera BP, por exemplo, decidiu não participar das primeiras escavações nas águas profundas de Gana, porque o tipo de geologia do local frequentemente leva a prejuízos, de acordo com Piggott, o explorador da BP. A Kosmos e a Tullow acabaram descobrindo Jubilee, um dos maiores campos da África, em 2007.

Assim que os geólogos da Tullow descobrem petróleo, eles tentam pensar em outras áreas que possam ser similares.

McCoss afirma que o campo de Jubilee faz parte de uma rica formação geológica que se estende por toda a costa oeste africana e que também pode ser encontrada do outro lado do Atlântico. De acordo com essa teoria, sob as águas da América Latina existe o mesmo tipo de depósito de petróleo do oeste africano, deixado lá quando o megacontinente de Pangea se separou.

No final do ano passado, McCoss testou sua ideia quando a Tullow cavou um poço na costa da Guiana Francesa. Na época, a Tullow já tinha credibilidade bastante para levar duas grandes empresas europeias – a Shell e a Total – a assumirem boa parte dos custos estimados em US$ 250 milhões. Em setembro, a Tullow anunciou que havia encontrado uma grande quantidade de petróleo. McCoss afirma que o campo pode ser ainda maior que o de Jubilee, com mais de um milhão de barris de petróleo.

Em julho, a Tullow anunciou uma descoberta na Costa do Marfim, confirmando a teoria de McCoss.

A descoberta no Quênia aplicou a teoria de McCoss à terra firme, procurando por locais parecidos com os de outras fontes de petróleo. Depois de conseguir dinheiro para sua busca em Uganda com a venda de dois terços dos achados para a Total e a China National Offshore Oil Corporation, ou CNOOC, por US$ 2,9 bilhões, a Tullow passou a procurar petróleo em outros vales no Quênia e na Etiópia. Aproveitando-se da falta de interesse nesses países, a Tullow foi capaz de adquirir cerca de 100.000 quilômetros quadrados de território de exploração – uma área do tamanho de Indiana – por cerca de apenas US$ 23 milhões.

É claro que também existem riscos. O faturamento e o valor de mercado da empresa provavelmente irão depender do preço do petróleo, que caiu fortemente nos últimos meses. A exploração de poços em águas profundas pode custar centenas de milhões de dólares e uma sequência de lances ruins pode acabar com os investimentos. Além disso, à medida que a empresa cresce, novas descobertas passarão a ter um impacto menor.

A empresa também poderia encontrar dificuldades políticas em países que nunca exploraram petróleo. Atualmente, Uganda já está pressionando a Tullow, a Total e a CNOOC a construírem uma refinaria no país.

Ainda assim a indústria provavelmente continuará investindo muito dinheiro na África Subsaariana, uma vez que ela é menos explorada do que outras partes do mundo e fica próxima da China e de outras economias asiáticas carentes de energia. Entre 2010 e 2011, os exploradores tiveram bons anos na região, descobrindo o equivalente a mais de 5 bilhões de barris. Este ano parece ser substancialmente melhor, com os volumes se aproximando dos 10 bilhões de barris.

"A África é um lugar importantíssimo para a exploração", afirmou Martin Kelly, analista chefe da África Subsaariana na empresa de consultoria Wood Mackenzie, com sede em Edimburgo.

À medida que a Tullow e outras empresas vão para áreas que desconhecem a perfuração de petróleo, uma preocupação é como isso pode atrapalhar o ambiente e a cultura locais.

A Tullow, por exemplo, está trabalhando na Bacia de Turkana, no nordeste do Quênia, o local de alguns dos sítios arqueológicos mais ricos para a busca dos primeiros hominídeos do planeta. O paleoantropólogo Richard Leakey, que trabalha na área desde 1968, afirmou ter ficado preocupado quando a Tullow conseguiu as licenças.

Em uma entrevista por telefone, Leakey afirmou que ainda existem cicatrizes deixadas na paisagem pelas atividades de exploração da Shell, anos atrás. Mas a atitude da Tullow é diferente, afirmou, dando crédito a Heavey. "Ele parece ser uma pessoa muito correta e com uma ótima atitude em relação às responsabilidades de uma petrolífera em uma área como essa", afirmou.

Leakey afirmou que a população da região é composta por pastores nômades e que temia que o governo central utilizasse o petróleo para seus próprios objetivos, dando à população local apenas "agrados e pequenas demonstrações de boa vontade".

De sua parte, Heavey afirmou que sua empresa estava aberta a formas criativas de compartilhar sua riqueza. Por exemplo, a Tullow listou suas ações na bolsa de valores de Gana.

"Nós temos de garantir que seremos transparentes naquilo que fazemos, e garantir que faremos as coisas do jeito certo", afirmou Heavey.

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