14 de novembro de 2012

Lucratividade menor dos bancos deverá se repetir nos próximos trimestres


O aumento da inadimplência e a desaceleração do ritmo de crescimento do crédito seguirão pressionando a rentabilidade dos maiores bancos brasileiros de varejo no próximo trimestre, avaliam especialistas do setor. Encerrada a divulgação dos resultados financeiros dos principais bancos no terceiro trimestre do ano – último a apresentar o balanço trimestral, o Banco do Brasil reportou, no dia 08 de novembro, queda de 6% no lucro –, as perspectivas para os próximos três meses ainda são de ajuste à nova realidade de Selic e spreads menores e de maior rigor na concessão de novos financiamentos. O Itaú já havia reportado queda de 13,4% no lucro e o Santander, redução de 8,5% . O Bradesco teve uma pequena alta de 1%.
Inadimplência e redução do crédito impactaram negativamente resultados dos principais bancos de varejo no Brasil.

Analista da Empiricus Research, Rodolfo Amstalden destaca que a pressão do governo para que os bancos reduzissem os juros praticados na concessão de crédito e também a taxa de administração de fundos de investimento contribuíram para frear a rentabilidade das instituições financeiras. “Os resultados captaram de maneira mais sensível o intervencionismo do governo e não foram muito animadores, já que carregaram ainda a inadimplência e a desaceleração da concessão de crédito”, afirma.

Na opinião do economista-chefe da corretora Souza Barros, Clodoir Vieira, o cenário não deve mudar muito até o final do ano. Para ele, a competição por melhores taxas de investimento, liderada por Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal, seguirá forçando a concorrência a reduzir o spread, o que, consequentemente, impactará negativamente os ganhos das instituições que operam no mercado nacional.

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A Souza Barros mantém, desde abril, uma posição neutra para as ações dos bancos. Analista do BES Securities, Gustavo Schroden revela que a redução dos spreads, associada à desaceleração do ritmo de crescimento de concessão de crédito, também levou o banco a adotar uma recomendação neutra para o setor de forma geral. Posição compartilhada ainda pelo Goldman Sachs que, em seus relatórios sobre o setor, vem destacando a necessidade de os bancos brasileiros buscarem maior eficiência operacional a fim de manter um nível de rentabilidade sustentável no médio prazo.

Investimentos em tecnologia e em ganhos de escala estão entre as medidas sugeridas pela instituição para melhoria da eficiência dos bancos, bem como um reforço nos serviços voltados a finanças pessoais. O próprio Goldman Sachs reconhece, todavia, que esse período de transição não será fácil. Não por acaso, o banco se diz “cauteloso em relação aos bancos brasileiros no curto prazo, uma vez que os analistas do setor enxergam turbulências à frente”.

Se quiserem recuperar a lucratividade os bancos terão que passar por ajustes muito fortes, opina o diretor-presidente do Instituto de Pesquisas Fractal, Celso Grisi. “Eles vão ter que mudar suas estruturas organizacionais, enxugar diretorias e vice-presidências e rever o sistema de bônus. Hoje, os bônus pagos por resultados alcançados são maravilhosos, sem paralelo em outras atividades econômicas”, diz.

O número de agências também deve diminuir, na opinião de Grisi, assim como o número de funcionários que atuam em cada uma delas. “Os bancos terão de manter apenas as agências mais lucrativas, optando por modelos de distribuição mais baratos, como correspondentes bancários ou distribuição eletrônica”, afirma.

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Para o economista-chefe da corretora Souza Barros, uma das soluções a serem adotadas pelos bancos para retomar parte da rentabilidade perdida será elevar as tarifas de serviços, de preferência sem aumentos visíveis aos clientes menos atentos.

“O banco do qual sou correntista não elevou as tarifas diretamente, mas reduziu os serviços oferecidos. Antes, eu tinha direito a fazer quatro DOCs e quatro TEDs por mês segundo as regras do pacote que contratei. Agora, posso fazer apenas três transações de cada tipo. Ou seja, houve uma elevação das tarifas, ainda que imperceptível para a maioria dos clientes”, exemplifica Vieira.
Bancos deverão fechar agências e elevar tarifas para recuperar parte da rentabilidade perdidas nos últimos meses.

Na opinião de Alexandre Póvoa, presidente da Canepa Asset, os bancos brasileiros sempre tiveram uma rentabilidade excepcional quando comparados às instituições de outras partes do mundo. O que se espera agora, diz, é um retorno mais alinhado à realidade global. Segundo Póvoa, essa tendência pode ser notada na precificação das ações do setor. “O comportamento dos papéis dos bancos brasileiros na bolsa de valores é outro indicador de que o setor está passando por um ajuste”, afirma.

Segundo relatório do Deutshe Bank, do início do ano até o último dia 5 de novembro, as ações os bancos brasileiros acumulavam perdas de 13%, desempenho inferior ao Ibovespa, que registrava queda de 5,5% no mesmo período.

Sem querer colocar lenha na fogueira, diz Póvoa, é importante ressaltar que esse aumento da inadimplência ocorre em um momento no qual a economia brasileira se encontra em uma situação de pleno emprego. Em outras palavras, destaca o economista, se hoje as pessoas estão deixando de pagar suas dívidas não é por falta de renda, mas sim por excesso de endividamento.

“Se a tão esperada recuperação da economia brasileira em 2013 não se confirmar e as empresas forem obrigadas a demitir, esse quadro de inadimplência pode se agravar tanto entre pessoas físicas quanto jurídicas”, analisa.

Na opinião dos analistas, entretanto, tais efeitos podem ser amenizados pela concentração do setor. Embora haja uma maior competição no que diz respeito às taxas de financiamento, a competição ainda é bastante insípida em relação às taxas praticadas pelas instituições. “Dificilmente um cliente troca de banco em busca de tarifas melhores. Por essa razão, elevar os custos dos serviços ainda representa uma maneira simples de recuperar parte da rentabilidade perdida pelos bancos”, destaca Póvoa.

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