25 de novembro de 2012

Na China, recuperação se sustenta em dívidas


Pequim – Com guindastes de construção se movendo por toda a China, de Guangzhou a Pequim, e com usinas de aço e fábricas de concreto novamente ocupadas, a economia chinesa vem mostrando sinais de recuperação neste outono – mesmo com Estados Unidos e Europa ainda sofrendo.

A produção industrial, o investimento em ativos fixos, as vendas em varejo e a geração de eletricidade, tudo se fortaleceu mais do que o esperado em outubro, continuando uma tendência que começou em setembro, enquanto a inflação caiu mais do que a previsão. Os bancos estatais lançaram uma torrente de empréstimos a empresas estatais desde maio, produzindo um rápido renascimento dos gastos com investimentos neste outono – mas também levantando questões sobre a eficiência desses investimentos.
Construção de conjunto residencial em Guang­zhou, China. Economia continua crescendo, em parte devido a empréstimos dos bancos.

Uma série de dados foi divulgada recentemente quando autoridades e oficiais militares se reuniram para uma transição de liderança no Congresso do Partido, gerando algum ceticismo (no estrangeiro e na China) de que os dados possam ter sido manipulados para benefícios econômicos.

Mas embora muitos economistas e executivos digam que os dados econômicos chineses possam ter sido deliberadamente alterados, ao longo da primavera e verão, para ocultar a severidade da desaceleração econômica, eles expressaram mais confiança de que a economia já estaria em recuperação.

No entanto, o envelhecimento da força de trabalho, a sobrecarga de trabalho em muitas indústrias e pesadas dívidas corporativas parecem estar causando uma recuperação mais fraca do que em 2010, com poucos sinais de que as taxas de crescimento voltarão a atingir dois dígitos tão cedo.

"Dado que os indicadores foram publicados enquanto o Congresso do Partido estava em sessão, alguns céticos questionaram se podemos acreditar neles", declarou a Capital Economics, consultoria de Londres, numa nota de pesquisa. "Em nossa visão, existem sólidas evidências de uma reviravolta – mas não de uma forte recuperação."

Zhou Xiaochuan, governador do Banco Popular da China, o banco central do país, afirmou numa coletiva de imprensa que a economia parecia ter dado a volta por cima mesmo antes do forte desempenho de outubro.

"Depois que a economia da China se moderou no segundo trimestre, as políticas domésticas se adaptaram, ajudando a economia a se estabilizar no terceiro trimestre, especialmente em setembro", disse ele, prevendo que a economia continuaria crescendo a menos que problemas econômicos de outros países renovassem as dificuldades também para a China.

Muitas preocupações persistem sobre a sustentabilidade de uma recuperação modesta e altamente dependente de dívidas. Os bancos chineses estão emprestando num ritmo tão acelerado que, até o final do ano que vem, terão expandido seus balanços (em apenas cinco anos) numa quantidade equivalente aos balanços combinados de todo o sistema bancário americano, segundo a Fitch Ratings. E isso porque a economia da China tem apenas metade do tamanho da economia dos EUA.

Cada dólar adicional de empréstimo desde 2008 produziu menos do que metade do crescimento econômico de antes da crise financeira global. Empresas estatais concluíram tarefas urgentes, como construir usinas de aço suficientes para suprir a demanda doméstica, e agora estão investindo em projetos cada vez menos economicamente viáveis para sustentar a atividade econômica.

Como resultado, a carga de empréstimo do setor empresarial da China está aumentando em relação à produção econômica do país, chegando a 1,9 vezes a produção econômica deste ano, depois de se manter estável em 1,2 vezes a produção econômica nos anos antes da crise financeira global.

Charlene Chu, chefe de avaliações de bancos chineses da Fitch, previu que essa taxa de empréstimos não poderia continuar indefinidamente.

"Aumentar a alavancagem vai afundar a habilidade de pagar dos tomadores de empréstimos, ou as necessidades de financiamento e capital dos bancos ficarão sem recursos existentes", disse ela.

A ocorrência desses ziguezagues abruptos na política econômica chinesa parece ter acompanhado as lutas de facções dentro do Partido Comunista, embora autoridades não tenham reconhecido essa ligação.

A inflação subiu em 2010 e na primeira metade de 2011, levando a um aumento acentuado na frequência de greves e outros protestos de trabalhadores – que disseram que o poder de compra de seus salários diminuiu. O governo respondeu reduzindo tanto os programas de despesas públicas e os empréstimos de bancos estatais que a economia desacelerou fortemente na primavera e verão deste ano, com o crescimento quase estacionando para medidas cruciais de atividade econômica como a geração de eletricidade.

Zhou expressou preocupação com o enfraquecimento da economia no congresso popular nacional no início de março, enquanto a economia começava a ter sérios problemas mas as políticas do governo continuavam focando em conter a inflação. Mas enquanto Bo Xilai, membro do Politburo popular entre os esquerdistas, foi subsequentemente expulso e as facções discutiam sobre seu destino durante a primavera, a política econômica permaneceu restritiva e praticamente inalterada em março, abril e início de maio.

O banco central não é politicamente independente na China, e todas as decisões econômicas importantes exigem aprovação política do Comitê Permanente do Politburo.

Com o setor de construção demitindo grandes números de trabalhadores no final da primavera, e com as fábricas também cortando funcionários, o premiê Wen Jiabao começou a ordenar publicamente uma política econômica mais expansionista em maio. Agora isso parece ter ajudado a economia, criando ao menos um aumento temporário de prosperidade que coincidiu com o congresso do partido.

Segundo a Agência Nacional de Estatística daqui, a produção industrial cresceu 9,6 por cento em outubro frente ao ano anterior, comparado com 9,2 por cento em setembro e 8,9 por cento em agosto. As vendas do comércio subiram 14,5 por cento em outubro, frente a 14,2 por cento em setembro – embora a menor inflação no nível de consumo estivesse agindo como um freio no aumento das vendas do comércio.

O investimento em ativos fixos cresceu 20,7 por cento nos primeiros 10 meses deste ano, após um aumento de 20,5 por cento para os primeiros nove meses do ano. A China só divulga números do ano para investimentos em ativos fixos, em parte pela dificuldade de acompanhamento quando o dinheiro está sendo gasto em grandes projetos de construção.

Nenhum comentário:

Postar um comentário