13 de janeiro de 2012

BlackRock se prepara para levar renda fixa brasileira ao exterior

Maior gestora de ativos do mundo quer ser a principal administradora de ETFs brasileiros de renda fixa para estrangeiros, diz Luis Felipe Andrade, presidente da empresa no Brasil.

Maior gestora de ativos do mundo, com US$ 3,3 trilhões sob gestão, a BlackRock está se preparando para explorar um mercado que está para nascer no Brasil: os fundos de índices (ETFs) de renda fixa. Com R$ 40 bilhões de ativos sob gestão em renda variável, a companhia agora pretende levar o mercado brasileiro de renda fixa para investidores estrangeiros, afirma Luis Felipe Andrade, presidente da companhia no Brasil.

“Diferente do que acontece em outros países latinos, nosso negócio no mercado brasileiro, até o momento, tem sido voltado para os investidores locais. Mas há um espaço grande para começarmos a oferecer lá fora os produtos de renda fixa brasileiros,” afirma o executivo, que assumiu a presidência da BlackRock no Brasil em setembro de 2010.

A estratégia da companhia faz todo sentido no momento atual, em que a instabilidade do mercado de renda variável, diante de tantas incertezas econômicas, vem elevando o apetite por produtos de investimento de renda fixa, que acompanham juros e inflação, por exemplo. Além disso, os títulos brasileiros têm taxas muito atrativas para os estrangeiros, já que o juro brasileiro é um dos mais altos do mundo.

Um dos objetivos da companhia para o Brasil, que atualmente é um dos países mais importantes na estratégia global da empresa, segundo Andrade, é ser reconhecida pela negociação dos ETFs brasileiros de renda fixa no exterior. Esse tipo de produto de investimento ainda não está em negociação no Brasil, mas a indústria financeira já solicitou a permissão para operar e o assunto está na agenda da Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Segundo a autarquia, “há um processo em análise na Superintendência de Desenvolvimento de Mercado, mas ainda não é possível precisar quando o tema será submetido à audiência pública.”

Andrade acredita que a CVM deve tratar disso ainda neste ano e afirma que a oferta de ETFs brasileiros de renda fixa no exterior vai ser importante para adicionar valor para a companhia globalmente. Hoje, a BlackRock tem 74 escritórios, em 26 países do mundo. No Brasil sua atuação está concentrada basicamente na gestão de ETFs de renda variável, que replicam índices de ações. Neste segmento, a empresa faz a gestão de mais US$ 40 bilhões. Em produtos de renda fixa, entretanto, a empresa gere apenas R$ 2 bilhões.

Esses números são resultado da estratégia que vinha sendo adotada pela empresa nos últimos três anos. Desde que chegou ao Brasil, em 2009, a BlackRock vem direcionando seus esforços da principalmente à gestão dos ETFs de renda variável. O principal produto da companhia é o BOVA11, fundo que investe em uma carteira igual à do Ibovespa, índice que reúne as 70 ações mais líquidas da bolsa de valores brasileira.

Apesar da menina dos olhos da BlackRock no Brasil, a partir de agora, ser a renda fixa, a empresa continuará a buscar a liderança no segmento de renda variável. Hoje, a gestora ocupa a segunda posição quando considerados os volumes de recursos. O fundo de índice PIBB, sigla que quer dizer Papéis Índice Brasil Bovespa, é líder brasileiro, com cerca de metade do mercado, apesar de ser pouco negociado. Administrado pelo Itau Unibanco, o PIBB foi lançado em 2004, logo que a CVM regulamentou as negociações com ETFs no Brasil. “Mas quando olhamos para a liquidez do mercado, somos os líderes, com 90% dos negócios diários,” diz Andrade, referindo-se ao movimento com o BOVA11.

Para ganhar mais espaço com renda variável, no entanto, a empresa tem pouca flexibilidade. Neste ano, a companhia lançará dois novos ETFs: um para replicar o UTIL, índice que reúne empresas de utilidade pública, que deve começar a negociar ainda neste semestre, segundo Andrade, e uma para replicar o ICO2, índice de carbono. Além destes dois novos produtos, não há outras opções disponíveis, afirma o presidente da BlackRock. “A bolsa de valores brasileira não tem nenhum outro índice para fazermos concorrências.” Segundo o executivo, como o número de empresas listadas na BM&FBovespa é pequeno (373), há poucos índices de ações e, portanto, poucas maneiras de replicá-los.

Assim, restará à empresa crescer com os índices que já possui. No caso do BOVA11, que é o principal produto da BlackRock, a estratégia é atrair investidores pessoa jurídica. “Só agora o segmento institucional entendeu como os ETFs funcionam e estão começando a ter o produto de uma maneira mais significativa,” diz Andrade, que também é presidente da comissão de ETFs da Associação Brasileira das Entidades do Mercado Financeiro e de Capitais. Depois de já ter atraído investidores pessoa física, agora o caminho traçado pela companhia é ir atrás dos recursos de fundações.

Se conseguirem conquistar os investidores institucionais – “e se o desempenho da bolsa de valores melhorar” – Andrade acredita que o BOVA11 poderá terminar 2012 com uma média diária de negociação de R$ 100 milhões, 42% acima dos atuais R$ 70 milhões. “Fizemos um trabalho de divulgação com as instituições no ano passado, que deve começar a dar resultado. Além disso, estou otimista com a bolsa e, pelo patrimônio que o produto já tem hoje, acho que pode chegar a volumes muito grandes e estar entre os de papéis mais líquidos da bolsa brasileira,” diz Andrade.

Se o mercado de ações vai ajudar, a aposta da BlackRock é que sim. “É cedo para falar, mas eu acho que neste ano a bolsa será positiva. Ainda vamos conviver com a volatilidade, mas a bolsa brasileira esta barata,” afirma. A grande novidade de 2012, diz o executivo, “é não ter nenhuma novidade”. “Os preços já incorporaram muitas notícias ruins,” diz.

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