20 de junho de 2012

Economistas criam índice para medir o bem-estar dos brasileiros

Indicador criado pela equipe do Itaú Unibanco nem sempre anda junto com o PIB e mostra que é possível melhorar a qualidade de vida da população mesmo sem crescimento.
Índice mede aspectos econômicos, humanos e sociais, mas não capta os subjetivos, como a influência do ambiente físico no bem-estar.

As medidas de crescimento e consumo mostram bem como o País tem se desenvolvido economicamente, no entanto, não mostram a evolução do bem-estar social. Para medir a melhora da qualidade de vida da população, economistas do Itaú Unibanco, com a ajuda do economista Samuel Pessoa, da Tendências Consultoria, criaram um índice de bem-estar para os brasileiros, chamado Índice Itaú de Bem-Estar Social. 

O conceito de bem-estar do índice está relacionado com aspectos humanos, como segurança, saneamento, educação e saúde; aspectos econômicos, como consumo e emprego; e desigualdade social. No entanto, não consegue captar dimensões mais subjetivas, como a influência do ambiente físico sobre o humor ou a relação entre dinheiro e felicidade. 

Medir a felicidade, dizem os economistas, é mais complicado, pois são necessárias pesquisas com entrevistas que questionem a população. “O índice mede a dimensão mais objetiva, possível de ser captada. Ainda falta apurar a subjetiva, que é como as pessoas se sentem com a vida que têm,” afirmou o economista Eduardo Giannetti, que participou do lançamento do índice, em São Paulo.

O resultado obtido pelos economistas, que coletaram dados de 1992 a 2010, reflete um avanço importante da qualidade de vida dos brasileiros nas últimas duas décadas. Além disso, eles observaram que o bem-estar nem sempre acompanhou o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB).

Em alguns momentos, como de 1992 a 1997, o bem-estar evoluiu mais rapidamente do que o PIB. Nos três anos seguintes a qualidade de vida ficou estagnada. A partir daí, os dois indicadores caminharam praticamente juntos, até 2006, quando a economia começou a avançar com mais velocidade do que a qualidade de vida, e foi assim até 2010, último ano de apuração do índice do Itaú.

Dinheiro x Felicidade
               Brasileiros se dizem felizes nas pesquisas, mas o País tem um baixo IDH.

Sobre a dificuldade de estabelecer uma relaçãoentre dinheiro e felicidade, os economistas comentam que ainda não existe uma forma de mensurar esses aspectos e suas influências. Ainda que seja possível fazer pesquisas, não se pode ter garantia de que as pessoas estão falando a verdade.

“Cerca de 75% dos brasileiros se dizem felizes, mas apenas 25% dizem que acreditam que as pessoas ao seu redor são felizes. Isso deve conter uma inverdade,” comenta Caio Megale, economista do Itaú Unibanco que também participou da elaboração do índice. "Também não há indícios de que a partir de um nível específico ou determinado de renda as pessoas são mais felizes," acrescentou Eduardo Giannetti.


Os economistas lembram que os brasileiros sempre aparecem como os mais felizes do mundo em pesquisas que buscaram mensurar esse tipo de sentimento, entretanto, indicadores de bem-estar, como o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), sempre trazem o Brasil mal posicionado na comparação com outras nações. “Por outro lado, o Canadá sempre aparece como o melhor país para se viver, com mais qualidade de vida e bem-estar. Entretanto, é o país que mais faz esforços para trazer cidadãos para viverem lá. Se fosse tão bom, teria fila para entrar,” diz Megale.

Além disso, eles comentam que muitos outros fatores influenciam a felicidade, o que dificulta ainda mais a verificação de sua relação com o dinheiro. Segundo Giannetti, uma pesquisa feita nos Estados Unidos mostrou que pessoas que podiam nomear cinco amigos com quem tinham conversado sobrequestões pessoais nos últimos seis meses tinham 60% mais chance de se declararam felizes do que os que não podiam nomear amigos com quem tinham conversado. “Isso mostra como relações interpessoais podem ter impacto relevante na vida que levamos,” diz.

Bem-estar x Crescimento

Para os economistas, a economia brasileira vai crescer menos a partir de agora, mas como mostra a relação entre o Índice Itaú de Bem-Estar Social e o PIB, isso não significa que a qualidade de vida dos brasileiros não possa melhorar. "O Brasil está entrando em baixo crescimento, mas muito pode ser feito. Isso não significa que a vida não pode continuar melhorando,” afirmou Giannetti.

Na opinião dele, o governo não deve seguir apenas a busca pelo PIB maior, mas deve olhar mais para o bem-estar. Entre as áreas que podem melhorar sem crescimento, ele cita saúde, saneamento e educação. “Se os encargos trabalhistas forem reduzidos, e a carga tributária também, o PIB se reduziria, mas o bem-estar melhoraria,” acrescenta.

Segundo ele, sem essas mudanças, fica mais difícil do que antes para o Brasil conseguir um grande salto de bem-estar. Em momentos em que a qualidade de vida avançou muito, como é o caso dos dois governos do presidente Lula, de 2006 a 2010, o consumo cresceu muito acima do PIB. “No entanto, naquele momento o Brasil se beneficiou muito do que veio de fora, e agora o crescimento baseado no consumo já se saturou,” diz Giannetti.

Segundo ele, o País exportou mais e teve uma virada em sua conta corrente, passando a ter superávit. “Isso significa que o mundo passou a nos financiar, o que trouxe um acréscimo de renda disponível que foi reciclado para consumo, principalmente das camadas de menor renda e da nova classe média,” disse.

Naqueles anos, acrescentou o economista, o País teve melhora da previdência, do salário mínimo e programas assistencialistas do governo. “Mas isso não está garantido que possa continuar daqui para frente, pois o Brasil se beneficiou do que veio de fora,” diz.

Já a solução para o crescimento, segundo Giannetti, é a capitalização. “Se o Brasil quer crescer, vai ter que aprender a investir mais e se capitalizar. Vai ter que desviar recursos de consumo para se criar capital que aumente a produtividade e permita o crescimento mais pra frente,” diz.

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