28 de janeiro de 2013

Com Selic estável, poupança caminha para o pior rendimento da história


Caso se confirmem as projeções do mercado financeiro e a taxa básica de juros – a Selic – se mantiver em 7,25% até o fim do ano, a poupança encerrará 2013 com o pior rendimento da história. Isso porque, desde maio de 2012, a aplicação deixou de ter rendimento mínimo de 6% ao ano – piso determinado em 1861, por Dom Pedro II.




Por conta do movimento de queda dos juros, o governo estabeleceu, a partir de 4 de maio de 2012, que a poupança deixaria de render 6% ao ano mais Taxa Referencial (TR), para os novos depósitos. A preocupação era que, com a Selic inferior a 8,5% ao ano, a poupança renderia mais que os títulos públicos, gerando uma migração maciça de recursos para a poupança e dificultando o financiamento do governo.

Com a nova regra, a poupança encerrou 2012 com rendimento médio de 6,17%. Mas, para 2013, caso o cenário previsto se confirme, a poupança fechará o ano, pela primeira vez na história, com ganhos inferiores a 6%.
Ministro da Fazenda, Guido Mantega, anuncia mudanças no rendimento da poupança, em 3 de maio de 2012.

Pela regra estabelecida pelo governo, a aplicação renderá 70% da taxa Selic mais a TR. Nos patamares atuais – e nos projetados pelo mercado, segundo dados do Boletim Focus, do Banco Central -, a Selic fechará 2013 em 7,25%. Como a TR está zerada, a poupança terminará 2013 rendendo 5,075% no acumulado do ano.

“Estamos, atualmente, com uma situação em que a poupança está com uma taxa de juros real negativa”, diz o professor de finanças da Fundação Instituto de Administração (FIA),Bolivar Godinho.

Segundo as projeções do mercado, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) – a chamada inflação oficial – deverá fechar 2013 em 5,53%, acima dos ganhos de 5,07% da poupança. “É uma situação muito difícil para o poupador, porque ele está perdendo o poder de compra da moeda”, completa Godinho.

A recomendação do especialista é para que o poupador, de maneira gradual, migre parte dos seus recursos da poupança para títulos de renda fixa – como o Tesouro Direto. Dependendo do perfil do investidor, continua o professor, aplicações em renda variável – como ações e fundo de ações – também podem ser boas opções. “Mas isso em um percentual pequeno das aplicações, porque renda variável exige um aprendizado.”

A “nova” poupança

A caderneta de poupança foi criada em 1861 – com a inauguração da Caixa Econômica da Corte, atual Caixa Econômica Federal -, por Dom Pedro II. O imperador queria estabelecer um retorno mínimo de 6% de juros às pequenas economias “das classes menos abastadas”.

Desde então, a poupança sempre garantiu ao investidor esse retorno mínimo. A partir de 1964, o governo estabeleceu uma correção monetária à aplicação, que seria adicionada ao rendimento anual de 6%.

Esse regime vigorou até 1994 – ano da criação do Plano Real –, em que o governo somou ao rendimento mínimo anual, que desde 1991 está em 0,5% ao mês (6,17% ao ano) a Taxa Referencial (TR).

No ano passado, como uma das bandeiras do governo Dilma Rousseff, a taxa básica de juros – a Selic – entrou em um movimento acentuado de queda, baixando de 11% em janeiro para 9% em abril – o menor patamar da história, até então. Com isso, as aplicações em títulos do Tesouro passaram a ter rendimentos muito próximos da poupança (que é isenta de imposto de renda). Dessa forma, o governo via o risco de uma migração acentuada de recursos dos títulos públicos para a caderneta.

A partir de maio, então, o governo estabeleceu uma nova regra para o rendimento da poupança. Com a Selic abaixo de 8,5%, a caderneta renderia 70% da taxa básica de juros, mais a TR.

A regra passou a valer já em junho, já que, no dia 30 de maio, o Comitê de Política Monetária (Copom) reduziu novamente a Selic para 8,5% (atualmente, a taxa está em 7,25% ano ano).

Mesmo com a remuneração menor, a poupança encerrou o ano com captação líquida (diferença entre depósitos e saques) recorde de R$ 49,7 bilhões, o maior resultado desde 1995.

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