21 de abril de 2013

Após forte queda no ano, OGX vale na bolsa 65% do patrimônio da empresa

Plataforma da OGX na Bacia de Campos: ações caíram 86,3 desde a estreia na bolsa, em 2008.

As ações da OGX acumulam queda de 64,6% desde o início do ano, o que faz a petrolífera de Eike Batista ter valor de mercado igual a 65% de seu patrimônio líquido. O Ibovespa, índice de referência da bolsa paulistana, caiu 9,8% no período. O levantamento foi feito por Einar Rivero, da consultoria Economatica. 

Na atual cotação dos papéis, que fecharam a semana passada valendo R$ 1,55, a OGX estaria avaliada em R$ 5,01 bilhões – no último pregão de 2012, valia R$ 14,1 bilhões. Ao mesmo tempo, o patrimônio da companhia, de acordo com o último balanço divulgado, é de R$ 7,69 bilhões.

“O mercado trabalha com previsão de cenários, não olha para o que a empresa vale agora, mas para o quanto deverá valer no futuro, para precificar a ação”, explicam Bruno Piagentini e Marco Aurélio Barbosa, analistas do setor de óleo e gás na corretora Coinvalores.


A OGX lançou ações na BM&F Bovespa antes mesmo de ser uma companhia operacional, ou seja, de extrair e vender petróleo. Eike Batista divulgava, então, previsões sobre qual seria a produção dos próximos anos – e o mercado levava em conta esses dados para avaliar o preço dos papéis.

No segundo trimestre do ano passado, a petrolífera passou a produzir petróleo, mas os dados desapontaram os analistas. A receita total da empresa em 2012 foi de R$ 325 milhões, considerada pequena para o setor, fazendo a OGX fechar o ano com prejuízo de R$ 1,17 bilhão.

A companhia estreou na bolsa em 12 de junho de 2008, na maior oferta inicial de ações (IPO, na sigla em inglês) brasileira até aquele momento, e captou R$ 6,7 bilhões com a emissão. Desde então, os papéis da empresa já caíram 86,3%.

Além do resultado fraco, recentes notícias sobre o endividamento elevado da companhia lançaram dúvidas sobre a capacidade de Eike Batista manter os planos de investimento que viabilizariam uma extração mais robusta no futuro. Em dezembro de 2011, a dívida bruta da empresa era igual a 53,8% de seu patrimônio, relação que saltou para 104% um ano depois.

“A OGX atua num setor capital intensivo, ou seja, que requer muito dinheiro para operar. Ela precisa ter escala na produção, para diluir os custos fixos, que são muito grandes – e não tem conseguido entregar os resultados que prometeu na época do IPO”, afirmam os analistas da Coinvalores.


As previsões não parecem ser de melhora no cenário. Na semana passada, o Deutsche Bank publicou um relatório no qual afirma que o preço das ações ainda pode cair pela metade. “Acreditamos que as chances de encontrar valor significativo [ de petróleo ] fora de [ regiões como ] Campos e Parnaíba são escassas. Desta forma, com o aumento da dívida líquida, a tendência é de que a nossa avaliação caia ainda mais”, diz o texto.

“Toda hora sai uma notícia ruim, e o medo do mercado é que o Eike não consiga aguentar o endividamento da companhia, não possa financiar seus projetos de longo prazo”, afirma Pedro Galdi, analista da corretora SLW.

Sobre o endividamento, a empresa afirmou, em comunicado enviado à Bovespa, que “as obrigações financeiras com vencimento em 2013 (...) levam em consideração a posição de caixa atual da companhia, que poderá ser reforçada no curto prazo através de estratégias de capitalização, bem como de desinvestimentos [ vendas ] em ativos fixos, além da realização de importantes parcerias”.

Ajuda da concorrente

Mas boas notícias recentes vieram do governo. A Petrobras sinaliza que deverá usar o Porto de Açu , que pertence ao grupo de Eike, para escoar a produção da região norte do estado do Rio de Janeiro. Na tarde de sexta-feira, Edison Lobão, ministro de Minas e Energia, declarou que daria aval para a eventual “ajuda” da Petrobras.


Foi suficiente para fazer os papéis da OGX encerrarem o pregão com alta de 6,84%, a maior do dia, cotados a R$ 1,55. “O governo tem grande exposição às empresas de Eike, por ter feito diversos empréstimos através do BNDES e financiado vários projetos do empresário”, diz Galdi. Ou seja, uma eventual quebra de Eike seria péssima para os cofres públicos. “Existe um risco sistêmico nisso”, diz.


Os analistas consultados não acreditam que as contas da empresa possam se tornar inviáveis. “Quebrar ela não vai, mas vai ter que mostrar que terá fôlego”, afirma Galdi. “É cedo para falar, mas acreditamos que não vai quebrar, não”, dizem Piagentini e Barbosa. “Mas quem comprar ações da OGX agora, mesmo elas estando ‘baratas’, ainda está comprando um projeto”, afirmam.

A Petrobras, que também acumula queda nas ações após ter divulgado lucros abaixo do esperado, também tem valor de mercado equivalente a 65% do patrimônio líquido da empresa. “Isso tem acontecido com algumas companhias, de diferentes setores, porque no geral o atual momento da bolsa também não ajuda”, dizem Piagentini e Barbosa.

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