25 de abril de 2013

Lei norueguesa estimula presença feminina em diretorias


Quando Anne-Sofie Risasen começou a trabalhar na empresa de tecnologia norueguesa Evry, no ano passado, ela já contava com um currículo impressionante. Formada em ciências da computação e dominando diversos idiomas, Risasen trabalhou durante anos na consultoria francesa Capgemini antes de assumir uma posição sênior na Microsoft daqui, onde administrou mais de 150 funcionários de toda a Noruega.

Porém, Risasen desejava aumentar sua capacitação.

Assim, em setembro passado, Risasen, 43 anos, se matriculou num centro de treinamento para executivos. Nos últimos sete meses, ela teve aulas de liderança na escola de negócios local, participou de eventos para formação de contatos e fez uma bateria de testes de aptidão para medir os pontos fortes e fracos.
Tove Selnes, à esquerda, executiva vice-presidente da Opera Software, e uma participante do Female Future.

"Para mim, foi uma decisão tática", disse Risasen na sede da Evry, num estacionamento coberto de neve situado nos arredores da capital norueguesa. "O principal motivo para participar foi integrar a diretoria."

Fundado em 2003, o centro de treinamento, Female Future, tem como objetivo treinar a próxima geração de diretoras do país.

O programa de 16 dias, ao longo de mais de dez meses, é parte escola de negócios e parte orientação de carreira. Nas oficinas com duração de um dia inteiro, as mulheres participam de cursos rápidos sobre virar diretora, incluindo treinamento em governança e liderança corporativas. Treinadores externos também tentam estimular a confiança convencendo as mulheres a contar histórias de suas carreiras, para perceberem as semelhanças de suas experiências.

Desde a fundação, o programa Female Future ajudou quase dois terços das 1.300 participantes a assegurar posições na alta administração ou na diretoria. Em dezembro, Risasen foi promovida e passou a comandar a unidade de setor público da Evry, supervisionando 500 empregados. Ela também espera que o treinamento a prepare para ingressar nas diretorias das subsidiárias da companhia quando terminar o curso, em junho.

"Agora, a alta administração da Evry sabe que tenho essa capacitação", ela disse.

O programa desempenha um papel central nas iniciativas voltadas à diversidade do país.

Em 2003, os políticos noruegueses aprovaram uma lei exigindo que 40 por cento das diretorias das empresas de capital aberto fossem compostos por mulheres. A Noruega tem um dos níveis mais elevados do mundo de participação feminina em diretorias, somando aproximadamente 36 por cento das empresas estatais e de capital aberto. Em comparação, esse número é de apenas 14 por cento nas maiores companhias dos Estados Unidos, segundo o instituto de pesquisa GMI Ratings.

"Para mudar os hábitos das pessoas, é necessário fazer algo radical", disse Tove Selnes, 43 anos, vice-presidente executiva da Opera Software, empresa norueguesa responsável pelo navegador de mesmo nome, que completou o programa da Female Future em 2007 e agora participa de dois conselhos de administração. "Levar mulheres às diretorias é bom para os negócios, acrescentando uma perspectiva diferente a respeito de como as decisões são tomadas."

Agora, o resto da Europa está seguindo o exemplo norueguês. Países como França e Itália aprovaram leis similares para aumentar o número de diretoras. A União Europeia anunciou planos em novembro estabelecendo metas para que todas as empresas de capital aberto negociadas na bolsa façam o mesmo até o fim da década, embora Alemanha e Grã-Bretanha tenham manifestado oposição à lei.

A criação de leis voltadas à diversidade pode ter seus limites.

Se por um lado a lei norueguesa abriu as diretorias para mais mulheres, por outro, a Noruega ainda está atrás de outros países ocidentais na promoção de mulheres a cargos na alta administração. As mulheres ocupam cerca de 20 por cento dos principais postos corporativos no país, em comparação com 31 por cento na Alemanha, segundo pesquisa da empresa de contabilidade Grant Thornton.

Os pesquisadores também questionaram se acrescentar mulheres aos conselhos de administração leva a um melhor desempenho financeiro. Outros manifestaram a preocupação de que um pequeno número de norueguesas – apelidadas de forma jocosa de "saias douradas" porque agora ganham a vida unicamente da participação em diretorias – abocanhou a maioria dos novos lugares nos conselhos, zerando as chances de muitas mulheres qualificadas encontrarem cargos de diretoras.

"As saias douradas substituíram a rede de contatos do 'clube do Bolinha'", disse Morten Huse, professor da BI Norwegian Business School, em Oslo. Ainda segundo ele, o número de mulheres ocupando postos em mais de três diretorias é o triplo do número de homens.

O programa Female Future conta com um apoiador improvável.

Quando a lei foi proposta, a Confederação das Empresas Norueguesas era um dos principais opositores à lei de cotas. O grupo fez lobby contra a proposta, argumentando que as empresas – e não o governo – têm o direito de escolher seus diretores.

A Confederação ainda se opõe à lei, mas reconhece que a iniciativa aumentou o número de diretoras.

O grupo pede para os membros corporativos indicarem candidatas para o Female Future com potencial de liderança. O curso atrai profissionais de empresas públicas e privadas, principalmente de Oslo. A Confederação paga 60 por cento dos US$ 8.500 de cada mulher matriculada. As empresas participantes e o governo norueguês bancam o resto dos custos.

"Nós não acreditamos no sistema de cotas, mas queremos ajudar mulheres qualificadas a encontrar funções nas diretorias", disse Kristina Jullum Hagen, consultora de igualdade e diversidade da Confederação das Empresas Norueguesas, que comanda o Female Future e participa do programa atual.

Como parte do centro de treinamento para a diretoria deste ano, Risasen, da Evry, e outras 25 participantes se reúnem regularmente para compartilhar histórias cotidianas ligadas ao trabalho. Os assuntos variam desde como formar uma rede de contatos comerciais adequada até a melhor forma de pedir uma promoção. No fim do curso, as participantes precisam ser aprovadas num exame com três dias de duração no papel de diretoras de governança corporativa.

Apesar da carreira bem-sucedida em recursos humanos, Selnes, da Opera Software, não possuía um grande número de contatos na comunidade de negócios norueguesa. Após terminar o curso, Selnes consultou alunas do Female Future em busca de possíveis candidatas para cargos em sua empresa e terminou no conselho de administração da filial de Oslo da Confederação das Empresas Norueguesas.

"A questão não é a amizade, mas a rede de contatos", disse Selnes, acrescentando que ainda se encontra com frequência com as colegas do Female Future.

O programa também incentivou ambições antes desconhecidas.

Quando Torhild Barlaup ingressou no Female Future, em 2008, não pensava ter a capacidade para ser diretora. Embora fosse gerente graduada numa importadora de veículos norueguesa, Barlaup, 44 anos, disse não ter a confiança para falar com os superiores a respeito de tais oportunidades.

Logo após terminar o curso, ela disse aos gerentes que estava pronta para assumir uma posição na diretoria. Embora a princípio os chefes tenham ficado surpresos, eles rapidamente encontraram papéis para ela em subsidiárias que enfrentavam problemas similares aos que Barlaup administrara em sua divisão.

"Antes, eu nunca teria feito aquele pedido", contou Barlaup, agora a principal executiva da divisão norueguesa da Meca, fabricante de autopeças escandinava. "O programa criou em mim um interesse que eu não sabia que tinha."

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