29 de julho de 2013

Cervejeiro "revolucionário" tem bebidas premiadas e repassa receitas em escola

"Viva La Revolución". O lema está estampado no logo da cervejaria artesanal paranaense e resume o pensamento do comandante da premiada Bodebrown, o químico Samuel Cavalcanti.
                                          Samuel Cavalcanti, fundador da Bodebrown.

Isso porque a cervejaria produz 11 cervejas, que já ganharam 27 medalhas em eventos importantes no segmento, como o Mondial de la Bière, no Canadá, e não se incomoda de repassar as receitas das bebidas em cursos oferecidos aos consumidores.


Na sala de aula ensina a degustar, mas também a produzir a bebida em casa. "Se ficar igual, parabenizo, assim como se ficar melhor e tiver a nossa bebida como referência", conclui o químico.

Dessa forma, Cavalcanti acredita que é possível disseminar a cultura da cerveja artesanal no País, e acabar beneficiando o próprio negócio. O objetivo é "libertar" os consumidores de grandes grupos internacionais, e apenas um tipo de cerveja.

Incentivando pequenos produtores no País, mesmo diante da falta de benefícios governamentais e da alta carga tributária, a Bodebrown espera colaborar para o crescimento econômico de cada localidade. "Juntos, podemos gerar mais empregos, pois temos menos processos automatizados".

Cavalcanti diz que na cervejaria optou pela inovação. Para isso, arrisca e vai contra a diretriz do mercado, concentrada em bebidas leves e refrescantes. "Já vendemos a cerveja Perigosa, com 15,1% de teor alcóolico, no calor do Rio de Janeiro". 

Crescimento

A imagem de formadores de opinião no segmento tem dado resultados. Em quatro anos de existência, a produção mensal da cervejaria passou de 1,6 mil litros por mês para 16 mil litros, volume dez vezes maior.

Ainda é pouco se comparado à média de produção das cervejarias artesanais, entre 60 mil a 100 mil litros, mas Cavalcanti não tem pretensões de crescer de forma rápida.

A Bodebrown trabalha com dois distribuidores e prefere expandir o negócio de modo sustentável, mantendo a essência "artística" da bebida, e apostar em complementos ao modelo de negócio. "É legal vender em todo lugar, mas minha praça é Curitiba", ressalta.

Ciclo completo

Ao começar a produzir cervejas, Cavalcanti verificou a necessidade de ensinar mais sobre a cerveja artesanal em um País que ainda está se acostumando a tratar a cerveja da mesma forma que um bom vinho. "Percebi que lançar uma cerveja mais amarga não faria sentido sem ensinar a sociedade a degustá-la".

Na sua visão, os consumidores percebem o valor de seu produto nas salas de aula. "Para quem aprende e conhece outros sabores, é difícil parar de beber". 

E é nos cursos, pelos quais já passaram 1.200 alunos em quatro anos, que surgiu a ideia do terceiro modelo de negócios.

Muitos alunos, depois de entender a composição da bebida, querem fazer as próprias experiências em casa. Surgiu então a ideia de montar uma loja com cerca de 500 itens, que revende itens importados de países como Estados Unidos e Itália. 

Hoje, 60% do faturamento da Bodebrown tem como origem a produção e a comercialização de seu portfólio de cervejas, enquanto 20% vem dos cursos promovidos na escola e 20% da loja de insumos relacionados à fabricação da bebida.

O próximo passo, além de ampliar o portfólio de cervejas, é aumentar a participação de eventos na cervejaria, como o Beer Train, passeio de trem por área preservada de Mata Atlântica que inclui degustação de bebidas. "O País é carente deste tipo de turismo. Vendemos 60 ingressos em três dias", conta. 

Rede de relacionamento

A Bodebrown vem chamando a atenção de estrangeiros, e já produziu em parceria com conhecidas cervejarias artesanais americanas, como a Stone Brewing e Odell.

Entre os pares nacionais, Cavalcanti conta que tem "relações afetivas" com a Wals, de Minas Gerais, a Colorado, em São Paulo, e a Seasons, de Porto Alegre. Cavalcanti admira a cervejaria que considera pioneira no cenário brasileiro, a Eisenbahn, adquirida pela Schincariol.

Muito dessa rede de relacionamento se deve à qualidade dos produtos, e também à figura e pensamento do "comandante", que é bastante assediado em eventos do mundo cervejeiro.

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