21 de março de 2014

Empresários buscam contornar prejuízo com feriados da Copa

Chopeiras, coolers e itens para preparar petiscos. Estes são alguns produtos que João Appolinário, fundador e presidente da Polishop, destacará em sua rede este ano, para buscar amenizar os efeitos da queda prevista de até 30% nas vendas durante o Mundial de Futebol da Fifa. Espera-se menos dias úteis no período, em razão dos feriados.

Os produtos terão uma campanha específica, que será lançada logo após o Dia das Mães, tendo como alvo o consumidor que prefere ver os jogos em casa. O objetivo é antecipar as vendas. “O varejo não vai parar completamente, mas a intenção de compra será menor”, pontua Appolinário.


O empresário pretende fechar as lojas nos prováveis feriados dos dias de jogos – tanto nacionais como municipais. “Além de um movimento fraco, arcar com mais custos na folha de pagamento é complicado”.

O presidente da rede de eletrodomésticos espera que haja interferência mínima do governo nesta questão. “As empresas deveriam ficar livres para decidir o que fazer durante os jogos”.
Appolinário, presidente da Polishop, espera queda de até 30% nas vendas no mês do Mundial.

A Federação Nacional do Comércio (Fecomercio) aponta que, se não houver atividade nos feriados decretados, o Produto Interno Bruto (PIB) nacional terá redução pelas horas não trabalhadas, que dificilmente são recompostas integralmente por um aumento posterior da produtividade.

Caso as empresas resolvam operar nas datas decretadas como feriado, haverá custos adicionais: a folha de pagamento dobra, além de serem pagos 37% de encargos trabalhistas.

Nas 12 cidades sedes que irão sediar os jogos da Copa do Mundo, em junho, apenas o Rio de Janeiro já decretou feriados parciais em três dias de partidas que acontecerão em dias úteis.

Em Porto Alegre, especula-se que o governo decida por ponto facultativo, enquanto em Salvador não deve haver feriados. Em Natal, os dias de folga são dados como quase certos. Já em Curitiba, a discussão se alonga na Câmara dos Vereadores. O governo federal, por sua vez, ainda não decidiu se decretará feriado nacional nos dias de jogos da Seleção.

Ano será repleto de promoções

Robinson Shiba, dono e presidente da rede de fast food China in Box, resolveu apostar em promoções todos os meses do ano. Elas consistem em descontos de até 25% nos dois pratos que são carro chefe da rede.

O objetivo é minimizar potenciais perdas durante a Copa atraindo mais clientes. “É um ano de muitos eventos. Teremos ainda as eleições, com possibilidade de manifestações nas ruas. Queremos estar em evidência”, conta.


Todo o fundo de publicidade da rede será direcionado para a campanha promocional em 2014, o que significa um aumento de 40%. “Não iremos fazer propaganda institucional este ano”, conta Shiba.

A rede, que anunciava apenas na TV paga, optou pelos comerciais na rede aberta este ano. “Queremos atingir mais pessoas. Mas o custo é maior. Então iremos fazer menos inserções, que também serão mais curtas”.
Shiba, presidente do grupo que reúne as marcas China in Box e Gendai: ano de promoções.

O empresário estima que o número de comandas tenha redução de 10% durante o Mundial, e que a margem de lucro caia de 15% para 12,5%. Isso porque, durante os feriados da Copa, parte das refeições feitas fora do lar será trocada por compras em supermercados, para a realização de reuniões com a família e amigos em casa.

Sua preocupação não é tanto com os feriados, mas com os dias nos quais a seleção irá jogar. “Perderemos vendas. Os jogos serão à tarde, e o movimento nos shoppings à noite será fraco nestes dias”.

As lojas não devem fechar nos feriados, mas apenas parar durante as duas horas de cada jogo da seleção. “Iremos aproveitar para montar uma estrutura de confraternização para os funcionários, para todos comemorarem a vitória da Seleção juntos, mas também chorar o prejuízo junto”, brinca.

Perdas ampliadas com eleição e economia mais contida

O diretor de relações com investidores da Grendene, Francisco Schmitt, prevê, durante os jogos, um efeito neutro ou levemente negativo sobre o negócio. “Se é feriado ou não, isso não muda o fato de que as pessoas irão assistir aos jogos e consumir menos. E os turistas que o País irá receber, cerca de 1 milhão, são irrelevantes para nosso negócio, e devem comprar apenas souvenirs”.

Caso haja mais feriados, o objetivo da empresa é realizar as compensações possíveis. Durante o mês do evento, a produção da Grendene é de menos da metade com relação a outras épocas do ano, o que minimiza eventuais efeitos negativos. “Se o evento acontecesse no último trimestre do ano, a preocupação seria maior”.


Schmitt não se preocupa tanto com o efeito Copa, como outros empresários, mas com o pacote com o qual vem acompanhado: uma economia mais fraca, com previsão de crescimento de 2,5% do Produto Interno Bruto (PIB), e perigo de racionamento de energia. “Em ano de eleição, a economia deveria ter mais dinamismo. Isso não está acontecendo”.
       Schmitt, da Grendene: preocupação maior com a falta de dinamismo da economia.

Nove meses para atingir metas

Carlos Nobre, empresário de uma média indústria que produz freios industriais e equipamentos de transmissão, a Tec Tor, está preocupado, pois estima que terá cerca de nove meses para atingir metas anuais de vendas, considerando a desaceleração e aceleração da produção durante o evento esportivo e também nas eleições.

Com 110 funcionários e uma fábrica em Santo André, na região metropolitana de São Paulo, Nobre não se preocupa com os feriados municipais, mas com os possíveis feriados nacionais em dias de jogo da Seleção brasileira.


Sem poder arcar com um custo trabalhista maior, a fábrica deve dispensar os funcionários nestes dias. “Três feriados em um mês equivalem a 25% do valor da folha de pagamento”, calcula. A compensação nos dias posteriores também é limitada. “Todos os nossos funcionários estão ocupados. E não temos como contratar temporários”.

Nobre tem clientes no exterior e teme que possa perder pedidos nos dias nos quais a fábrica estará fechada, além de ter menos dias para entregar pedidos. “Em geral, os contratos com os clientes prevêem 10% do valor total por dia de atraso”.

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