27 de março de 2014

Redes de hotéis lançam unidades em prédios cheios de história

O cofre original do prédio da bolsa de algodão de New Orleans, que agora é um hotel. Hoje, o espaço é usado como um escritório.

As palavras reutilizar e reciclar estão adquirindo um novo significado para o setor de hotéis nos Estados Unidos. A indústria hoteleira sacode o marasmo da recessão, novas unidades começam a ser construídas e as redes buscam reaproveitar prédios de escritórios, armazéns e hospitais.

O Lamb's Theater, de Nova York, um antigo marco localizado dentro da Church of the Nazarene, em Manhattan, é agora o luxuoso Chatwal Hotel. Na Filadélfia, o antes vazio edifício Lafayette, perto do Independence Hall, reabriu em 2012 como Hotel Monaco. Em Nova Orleans, uma nova vida está surgindo no Cotton Exchange Hotel, perto da Bourbon Street.

Por trás disso está a mudança de gosto dos viajantes mais jovens, que começam a ter uma sensibilidade urbana quando se trata de acomodações. "Os viajantes não querem que consistência e confiança na rede venham em detrimento da autenticidade", declarou Henry Harteveldt, analista de viagens da empresa de pesquisa Hudson Crossing.


O hotel adaptado está presente em cidades menores, como a texana Amarillo, Pittsburgh, Stamford, em Connecticut, além de grandes metrópoles, como Nova York, Washington, Boston e Nova Orleans.

"As cadeias hoteleiras perceberam que a padronização não significa muito para os hóspedes, como ocorria no passado", afirmou Bjorn Hanson, reitor divisional do Preston Robert Tisch Center for Hospitality, Tourism and Sports Management, da Universidade de Nova York.

Executivos do Marriott estimam que entre 10 e 20% das novas unidades da bandeira Courtyard neste ano serão instaladas em construções reaproveitadas. A cadeia Kimpton prevê que ao menos uma dúzia de suas 60 propriedades sejam prédios adaptados. E, na Europa, o InterContinental Hotel Group converteu 82 instalações (de um total de 187) entre 2010 e 2013.

Até mesmo o governo americano está se aventurando nos hotéis readaptados. Em junho passado, após um processo de concorrência, a agência General Services Administration chegou a um acordo para alugar o antigo prédio dos correios, em Washington, para a Trump Organization por 60 anos, com possibilidade de renovação.

A cadeia estima um investimento de US$200 milhões para converter o prédio em um espaço luxuoso de uso misto, incluindo hotel, museu, centro de visitantes e lojas.

O Marseille-Hotel Dieu, que em abril inaugurou uma unidade em um hospital do século XVIII que estava vazio há décadas, também incluiu uma coleção de artefatos encontrados durante as reformas.

Especialistas dizem que os traços e detalhes arquitetônicos podem oferecer um toque mais aconchegante, um senso de individualidade.

"Ao pedir que o motorista de táxi o leve para um hotel específico, o hóspede está contando algo sobre si mesmo", disse Harteveldt.
O prédio da bolsa de algodão de New Orleans, que se transformou em um hotel. Redes adaptam empreendimentos comerciais, galpões e até hospitais.

Modelo de negócio é atrativo

Segundo especialistas, muitas vezes pode ser mais rápido e barato readaptar um prédio existente do que construir um novo. Mesmo quando o custo é mais alto, "a vantagem tributária compensa", explicou Janis Milham, vice-presidente sênior de estadia prolongada do Marriott International.

Algumas cadeias nos Estados Unidos procuram o Programa Federal de Incentivo Fiscal a Preservações Históricas do National Park Service, administrado junto ao Internal Revenue Service (serviço de imposto de renda dos EUA). Ele concede deduções tributárias de até 20%, que podem ser usadas para ajudar a financiar a reabilitação de edifícios históricos.

A esse programa federal, disponibilizado nos 50 Estados, podem-se somar também os descontos de impostos históricos estaduais que mais de metade dos Estados possui.


Uma construção histórica não precisa ser convertida num hotel, embora cerca de 4,5% dos créditos fiscais sejam usados para esse fim. A quantia em dólares gasta em conversões, incluindo hotéis, subiu de US$ 5,3 bilhões em 2012 para US$ 6,7 bilhões em 2013, segundo estatísticas do National Park Service.

Um desenvolvedor que utilizou o programa é o diretor executivo Mehul Patel, da NewcrestImage, uma incorporadora em Irving, no Texas. Ele converteu o Fisk Medical Arts Building de Amarillo em um Marriott Courtyard em 2010.

Patel disse que o projeto propiciou uma sensação nostálgica para alguns hóspedes. "Eles entendem e respeitam a história", afirmou.

Ele agora se dedica ao Cotton Exchange em Nova Orleans, edifício de 150 anos, e espera começar a trabalhar rapidamente e investir mais de US$ 10 milhões em melhorias no prédio.

Ele antecipa que o hotel se tornará um dos primeiros AC Hotels nos Estados Unidos, uma cadeia europeia de três anos que é uma joint venture entre a Marriott International e o grupo espanhol AC Hotels. "A tecnologia nos permite ser mais eficientes do que antes", argumentou.

Na Europa, o InterContinental Hotel Group adotou prédios reaproveitados por motivos econômicos. "Os bancos preferem oferecer financiamentos para edifícios que já existem", afirmou Miguel Ruano, vice-presidente de projeto e engenharia do Europe-IHG.

Hóspedes reclamam sobre estrutura

Para os hóspedes, abrir mão do modelo padrão de hotel pode trazer traços intrigantes de arquitetura, como corredores com formatos estranhos, riqueza de história e personalidade, e estabelecimentos melhorados, como um restaurante que atrai clientes dos bairros vizinhos. Para aqueles acostumados a homogeneidade, porém, a experiência pode ser confusa.

Alguns hóspedes ainda não estão convencidos da eficiência tecnológica envolvida na reforma de prédios antigos.

Em meados de fevereiro, Rob Bullock, diretor executivo da Government Finance Officers Association, se hospedou no Cotton Exchange Hotel antes de um cruzeiro – e ouviu muito barulho vindo da rua. As camas eram duras.

Ele escreveu em um e-mail: "A equipe era excelente. Eles me ouviram atentamente e tentaram fazer o possível para resolver as coisas. Trouxeram mais travesseiros e lençóis adicionais, mas o hotel estava lotado e não havia muito mais o que fazer".


Na viagem de volta, ele optou por um hotel de rede tradicional, onde a cama era mais confortável. Bullock não pretende retornar ao Cotton Exchange.

Patel diz que uma reforma já programada incluirá novas camas e outros acessórios necessários.

Em uma recente visita ao hotel Zero Degrees, em Stamford, John W. Eskew, dono de uma empresa de design em Bridgeport, Connecticut, descobriu que o aquecedor de seu quarto "emitia um zumbido alto que atrapalhou seu sono", contou ele.

O proprietário do Zero Degrees, Randy Salvatore, garantiu que novos aparelhos foram instalados nos quartos quando o hotel foi reformado, há quatro anos. Mesmo assim, Eskew elogiou muito a gerência do hotel por sua prontidão e eficiência.

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