14 de janeiro de 2014

Quatro empresas de ônibus cobram preço idêntico no trecho Rio-São Paulo

                                          Terminal Rodoviário do Tietê, em São Paulo.

Quem quiser ir de São Paulo para o Rio de Janeiro em ônibus convencional no dia 09 de janeiro pode escolher entre quatro viações. Apesar da quantidade de opções, o valor cobrado pelas empresas é o mesmo: R$ 74,50 para ir e R$ 80,90 para voltar em qualquer uma delas.

A maior ligação rodoviária entre dois Estados brasileiros é a única, entre as dez maiores do País, em que todas as empresas concorrentes praticam exatamente o mesmo preço no serviço convencional, o mais em conta.

Em média, a diferença entre o maior e o menor preço nos dez trechos com maior número de passageiros (veja a lista abaixo) é de 12%, mas há variações importantes. De Curitiba (PR) para Florianópolis (SC), a maior tarifa é 38% mais cara do que a menor. Do Rio de Janeiro (RJ) para Juiz de Fora (MG), conexão operada por duas viações associadas, a diferença é de 1%.

O levantamento foi feito nesta semana nos dados da Agência Nacional de Transportes Públicos (ANTT) e junto às viações. O órgão regulador tenta, sem sucesso, realizar um leilão das linhas interestaduais. Na análise da superintendente de Serviços de Transporte de Passageiros da ANTT, Sônia Rodrigues Haddad, o processo licitatório ampliará a concorrência em 41% das atuais linhas – inclusive entre Rio e São Paulo. Mas só poderão participar as empresas que já atuam nesse mercado.

Concorrência rodoviária
TrechoPassageiros/AnoViações autorizadas a operar serviço convencional e localizadasDiferença da maior para a menor tarifa (em%)
Rio de Janeiro - São Paulo 
1.471.974
40
São Paulo - Curitiba
658.405
316
Belo Horizonte - São Paulo
605.786
26
Recife - João Pessoa
583.050
26
Rio de Janeiro - Belho Horizonte
511.430
216
Rio de Janeiro - Juiz de Fora (MG)
467.244
21
Brasília - Goiânia
452.116
12
Brasília - Formosa (GO) 
446.810
1-
Curitiba - Florianópolis
317.543
338
Curitiba - Joinville (SC)
317.543
213

Pelo teto

Cinco viações são autorizadas a atuar na ponte rodoviária Rio-São Paulo, por onde trafegam cerca de 1,4 milhão de pessoas por ano, segundo uma pesquisa da ANTT: Expresso Brasileiro, Viação Itapemirim, Expresso Kaiowa, Expresso do Sul e Auto Viação 1001 – essas últimas, do mesmo grupo JCA. Uma sexta, a Transportes Coletivos Brasil (TBC) possui aval judicial, mas não informou os preços que cobra.

O passageiro que pretende viajar em serviço leito – o mais caro de todos – também não encontrará grandes diferença de preço entre as quatro opções: 3% (de R$ 159,50 a R$ 163,50) para o Rio e 6% (de R$ 159,50 a R$ 163,50) para São Paulo. Não foram considerados os serviços leito diferenciados, como aqueles identificados pelas empresas como 1ª classe ou double deck. 


Os intervalos estão maiores, por outro lado, no serviço executivo – considerado um intermediário entre o convencional e o leito. Nele, há cinco opções e as diferenças chegam a 27% (R$ 84,24 a R$ 107,50) para o Rio e de 18% (de R$ 85 a R$ 100) para São Paulo.

A ANTT estabelece tarifas máximas para cada trecho e tipo de serviço (convencional, executivo e leito). As empresas são livres para praticá-lo ou conceder descontos se assim desejarem. Ricardo Vilaronga, gerente comercial da Expresso Brasileiro, avalia que no caso da ponte rodoviária Rio-São Paulo, há pouca margem para ofertas.

“Pelo cliente, com certeza seria melhor se fosse mais baixo. Mas o entendimento é que [o valor praticado] é um preço justo”, afirma, lembrando ainda que as promoções têm de ter duração limitada.

A 1001 informou, em nota, que as tarifas praticadas estão de acordo com os valores autorizados pela ANTT. Um representante da Kaiowa ressaltou que a viagem entre Rio e São Paulo é parte de uma linha maior, que liga Foz do Iguaçu à capital fluminense. As demais empresas não comentaram.
                                      Fila no Terminal Novo Rio, na capital fluminense.

Prato feito

Para o presidente da Comissão Técnica de Ônibus da Associação de Transportes Públicos, Claudio Frederico, o sistema de transporte rodoviário interestadual está preso numa lógica de prato feito: um sucesso, mas com preços e composições semelhantes em todo o lugar.

Frederico argumenta que as empresas têm pouca flexibilidade para mexer nas tarifas e na oferta de serviços – não é possível, por exemplo, propor novas linhas – que, ainda assim, têm feito sucesso entre a população.

“Essa tutela [do governo] tem gerado pequenas variações de preços. Se ninguém pode mudar muito, não vai haver mesmo muita diferença de preço”, diz. “É provável que o teto [para Rio-São Paulo] seja baixo e que a linha, embora nesse preço, tenha uma boa demanda.”

A sugestão do consultor é aplicar ao sistema rodoviário o mesmo modelo usado no setor aéreo, em que as empresas são livres para dar descontos individualizados, e não a todos os passageiros de uma mesma viagem, por exemplo. Isso é impedido pelas atuais regras.

“Foi adotado [na aviação brsaileira] o sistema utilizado em todo o mundo de 'yield management',em que os preços dependem de diversos fatores como antecedência da compra, época do ano e da semana, tempo de permanência e cotas de assentos por viagem. Isso acarreta, é óbvio, preços muito baixos, sempre elogiados, e outros muito altos, sempre criticados”, afirma o pesquisador.

Esse não é o modelo previsto no leilão do sistema rodoviário que a ANTT pretende realizar – e que está suspenso por tempo indeterminado por decisão judicial. A agência, entretanto, acredita que o certame pode levar a uma redução mínima de, em média, 4% nos preços atualmente praticados.

Em entrevista em dezembro, a superintendente de Serviços de Transporte de Passageiros da ANTT, Sônia Rodrigues Haddad, disse que "com certeza" o leilão levaria a uma situação em que pelo menos parte das empresas de um determinado trecho deixassem de praticar o teto tarifário.

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