Terminal Rodoviário do Tietê, em São Paulo.
Quem quiser ir de São Paulo para o Rio de Janeiro em ônibus convencional no dia 09 de janeiro pode escolher entre quatro viações. Apesar da quantidade de opções, o valor cobrado pelas empresas é o mesmo: R$ 74,50 para ir e R$ 80,90 para voltar em qualquer uma delas.
A maior ligação rodoviária entre dois Estados brasileiros é a única, entre as dez maiores do País, em que todas as empresas concorrentes praticam exatamente o mesmo preço no serviço convencional, o mais em conta.
Em média, a diferença entre o maior e o menor preço nos dez trechos com maior número de passageiros (veja a lista abaixo) é de 12%, mas há variações importantes. De Curitiba (PR) para Florianópolis (SC), a maior tarifa é 38% mais cara do que a menor. Do Rio de Janeiro (RJ) para Juiz de Fora (MG), conexão operada por duas viações associadas, a diferença é de 1%.
O levantamento foi feito nesta semana nos dados da Agência Nacional de Transportes Públicos (ANTT) e junto às viações. O órgão regulador tenta, sem sucesso, realizar um leilão das linhas interestaduais. Na análise da superintendente de Serviços de Transporte de Passageiros da ANTT, Sônia Rodrigues Haddad, o processo licitatório ampliará a concorrência em 41% das atuais linhas – inclusive entre Rio e São Paulo. Mas só poderão participar as empresas que já atuam nesse mercado.
Trecho | Passageiros/Ano | Viações autorizadas a operar serviço convencional e localizadas | Diferença da maior para a menor tarifa (em%) |
Rio de Janeiro - São Paulo
|
1.471.974
| 4 | 0 |
São Paulo - Curitiba |
658.405
| 3 | 16 |
Belo Horizonte - São Paulo |
605.786
| 2 | 6 |
Recife - João Pessoa |
583.050
| 2 | 6 |
Rio de Janeiro - Belho Horizonte |
511.430
| 2 | 16 |
Rio de Janeiro - Juiz de Fora (MG) |
467.244
| 2 | 1 |
Brasília - Goiânia |
452.116
| 3 | 12 |
Brasília - Formosa (GO) |
446.810
| 1 | - |
Curitiba - Florianópolis |
317.543
| 3 | 38 |
Curitiba - Joinville (SC) |
317.543
| 2 | 13 |
Pelo teto
Cinco viações são autorizadas a atuar na ponte rodoviária Rio-São Paulo, por onde trafegam cerca de 1,4 milhão de pessoas por ano, segundo uma pesquisa da ANTT: Expresso Brasileiro, Viação Itapemirim, Expresso Kaiowa, Expresso do Sul e Auto Viação 1001 – essas últimas, do mesmo grupo JCA. Uma sexta, a Transportes Coletivos Brasil (TBC) possui aval judicial, mas não informou os preços que cobra.
O passageiro que pretende viajar em serviço leito – o mais caro de todos – também não encontrará grandes diferença de preço entre as quatro opções: 3% (de R$ 159,50 a R$ 163,50) para o Rio e 6% (de R$ 159,50 a R$ 163,50) para São Paulo. Não foram considerados os serviços leito diferenciados, como aqueles identificados pelas empresas como 1ª classe ou double deck.
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Os intervalos estão maiores, por outro lado, no serviço executivo – considerado um intermediário entre o convencional e o leito. Nele, há cinco opções e as diferenças chegam a 27% (R$ 84,24 a R$ 107,50) para o Rio e de 18% (de R$ 85 a R$ 100) para São Paulo.
A ANTT estabelece tarifas máximas para cada trecho e tipo de serviço (convencional, executivo e leito). As empresas são livres para praticá-lo ou conceder descontos se assim desejarem. Ricardo Vilaronga, gerente comercial da Expresso Brasileiro, avalia que no caso da ponte rodoviária Rio-São Paulo, há pouca margem para ofertas.
“Pelo cliente, com certeza seria melhor se fosse mais baixo. Mas o entendimento é que [o valor praticado] é um preço justo”, afirma, lembrando ainda que as promoções têm de ter duração limitada.
A 1001 informou, em nota, que as tarifas praticadas estão de acordo com os valores autorizados pela ANTT. Um representante da Kaiowa ressaltou que a viagem entre Rio e São Paulo é parte de uma linha maior, que liga Foz do Iguaçu à capital fluminense. As demais empresas não comentaram.
Fila no Terminal Novo Rio, na capital fluminense.
Prato feito
Para o presidente da Comissão Técnica de Ônibus da Associação de Transportes Públicos, Claudio Frederico, o sistema de transporte rodoviário interestadual está preso numa lógica de prato feito: um sucesso, mas com preços e composições semelhantes em todo o lugar.
Frederico argumenta que as empresas têm pouca flexibilidade para mexer nas tarifas e na oferta de serviços – não é possível, por exemplo, propor novas linhas – que, ainda assim, têm feito sucesso entre a população.
“Essa tutela [do governo] tem gerado pequenas variações de preços. Se ninguém pode mudar muito, não vai haver mesmo muita diferença de preço”, diz. “É provável que o teto [para Rio-São Paulo] seja baixo e que a linha, embora nesse preço, tenha uma boa demanda.”
A sugestão do consultor é aplicar ao sistema rodoviário o mesmo modelo usado no setor aéreo, em que as empresas são livres para dar descontos individualizados, e não a todos os passageiros de uma mesma viagem, por exemplo. Isso é impedido pelas atuais regras.
“Foi adotado [na aviação brsaileira] o sistema utilizado em todo o mundo de 'yield management',em que os preços dependem de diversos fatores como antecedência da compra, época do ano e da semana, tempo de permanência e cotas de assentos por viagem. Isso acarreta, é óbvio, preços muito baixos, sempre elogiados, e outros muito altos, sempre criticados”, afirma o pesquisador.
Esse não é o modelo previsto no leilão do sistema rodoviário que a ANTT pretende realizar – e que está suspenso por tempo indeterminado por decisão judicial. A agência, entretanto, acredita que o certame pode levar a uma redução mínima de, em média, 4% nos preços atualmente praticados.
Em entrevista em dezembro, a superintendente de Serviços de Transporte de Passageiros da ANTT, Sônia Rodrigues Haddad, disse que "com certeza" o leilão levaria a uma situação em que pelo menos parte das empresas de um determinado trecho deixassem de praticar o teto tarifário.
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