11 de outubro de 2013

"A incompetência foi muito grande", diz ex-diretor da Petrobras sobre Eike

Para Ildo Sauer, ex-diretor de energia e gás da Petrobras, o dinheiro já sumiu. "O gato levou".

"Não esperava que a incompetência fosse tão grande". Essa é a opinião do ex-diretor de energia e gás da Petrobras, Ildo Sauer, sobre a situação da petroleira controlada pelo empresário Eike Batista, a OGX, após anunciar um calote de sua dívida esta semana.

Hoje diretor do Instituto de Energia e Ambiente da Universidade de São Paulo (USP), Sauer trabalhou na maior empresa de petróleo do País entre 2003 e 2007. 


Sauer lembra que, em 2007, OGX e Petrobras disputaram de forma acirrada blocos de óleo, mesmo considerando que a petroleira de Eike tinha apenas "alguns meses" de existência. "A empresa já se sentiu habilitada", opina.

Criada em julho daquele ano, a OGX arrematou poucos meses depois, em novembro, 21 blocos na 9ª rodada de licitações da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).

Para Sauer, há suspeitas de atos ilícitos. "A empresa pode ter tido acesso à informação privilegiada sobre modelo geológico e reservas potenciais nos blocos, já que muitos gestores da Petrobras foram recrutados progressivamente pela OGX", diz. 

No momento em que a OGX começou a perfurar os poços para produzir óleo, não contava com dois problemas, na visão do engenheiro: petróleo pesado, muito viscoso, e um reservatório com matriz fechada, que dificultam a exploração. "A empresa deveria ter uma equipe específica para tecer estas considerações. Parece que não tinha, bem como a tecnologia necessária". 

Para Sauer, o sucesso de Eike em festas e eventos criou expectativa, junto com a publicação sucessiva de comunicados na Comissão de Valores Mobiliários (CVM). "Aonde estavam os órgãos reguladores para fiscalizar estes anúncios?", questiona Sauer. "Me surpreende a incompetência de todos. A expectativa gerada especialmente no mercado de capitais deu a impressão de que tudo fosse um passeio".

Ele ressalta que a auditoria das reservas de óleo, realizada pela Degolyer Macnaughton, se limitavam à quantidade de óleo que poderia ser explorado. "Sabemos que tem muito nos blocos. Mas é difícil produzir, exige tecnologia especial para conseguir recuperar o óleo, retirá-lo". 

Sauer lembra que a Agência Nacional do Petróleo (ANP) declarou a comercialidade do campo. Segundo a própria ANP, declaração de comercialidade é unilateral da empresa. "Se for assim, não precisamos da ANP. Cada um declara o que quer", opina.

E agora?

Sauer decreta: a incompetência superou o otimismo e oportunismo. "Resta saber: quem é o maior responsável por este espetáculo todo? Foi uma aventura que abalou a confiança no sistema regulatório de petróleo e no mercado de capitais. É uma situação constrangedora, para dizer o mínimo, que deve passar por investigação do Senado, Ministério Público e até da polícia".

Na sua opinião, o "dinheiro já sumiu". "O gato levou. Foi distribuído no IPO (Oferta Pública Inicial de Ações) da empresa. Tenho conhecidos que apostaram tudo na OGX. O caso me lembra o do Banco Halles. Até a professorinha de Campinas (interior de São Paulo) investiu no seu fundo, e viu o dinheiro evaporar", conclui.

O Banco Halles, conta Sauer, era conhecido por sua propaganda intensa feita por agentes autônomos, com promessa de altos ganhos. Os preços de suas cotas aumentavam até que o banco foi à falência, levando a poupança de muitos aplicadores. "A lógica era a mesma das empresas de Eike Batista: especulativa. O produto de investimento era visto como miraculoso".

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