5 de outubro de 2013

Busca por projetos inovadores aproxima empresas, clientes e universidades

Ruas largas com pontos de parada em projeto da Tecnisa nasceram a partir do pensamento coletivo em inovação funcional.

Inovação. Você deve ter lido essa palavra ao menos uma vez nesta semana. Não é à toa – essa é a bola da vez em empresas de todos os setores, de tecnologia até a construção civil. Se antes a maior parte das companhias já estava suando para levar produtos mais baratos às prateleiras, agora as atenções estão todas voltadas para a criatividade: tanto no desenvolvimento de produtos mais funcionais quanto no ganho de eficiência na operação.

Entre as diversas formas de criar está a chamada Inovação Aberta. Considerada uma metodologia corporativa, a modalidade busca fora dos departamentos de pesquisa e desenvolvimento a principal matéria-prima para o desenvolvimento de inovação.

O ponto de partida pode estar na rua ou na academia. Na Tecnisa, construtora sediada em São Paulo, a inspiração vem dos potenciais clientes. Os meios digitais têm sido uma importante fonte para quem cria empreendimentos. No começo, o blog era o principal canal da empresa para incitar a manifestação dos clientes – hoje as redes sociais promovem uma colaboração exponencial.

Um dos próximos empreendimentos a serem lançados contou a ajuda de uma equipe bem grande. Arquitetura inclusiva foi o primeiro tema lançado na rede. “Ativamos nosso blog corporativo para receber sugestões para nosso projeto de gerontologia ”, conta Marcelo Trevisani, especialista em Negócios e Mídias Sociais da Tecnisa. Em menos de um mês, mais de 200 clientes mandaram ideias.

A pista para caminhada é mais larga, com espaço suficiente para um cadeirante ou um idoso com andador passear acompanhado de outros pedestres. O banheiro sai adaptado com apoios e assentos no chuveiro. Até o acessório da porta foi invertido: com a maçaneta abaixo do fecho, de forma a facilitar a visibilidade da fechadura.
Fechadura invertida em projeto da Tecnisa: parceria com clientes é fértil para ganho de funcionalidade.

Algumas dessas adaptações deverão chegar aos empreendimentos Acqua Play e Bossa Nova, ambos em Santos, no litoral sul paulista, com previsão de lançamento para outubro e dezembro, respectivamente. “Entre 2010 e 2012, recebemos 1.949 ideias para várias áreas. Aprovamos e implementamos 35 delas”, conta Trevisani.

Atualmente a empresa não remunera as sugestões do público em geral. Eventualmente, prêmios são oferecidos para especialistas, contatados também de forma massiva nas redes sociais. “Criamos desafios em grupos de debate específicos. Nesse caso, premiamos os profissionais com soluções que tenham sido aprovadas”, explica.

Como forma de devolver a contribuição, a Tecnisa abre as portas para universidades e profissionais, para servir de referência para seus processos. Com o trabalho pronto, o próprio site da empresa funciona como meio de divulgação.

Parceria com a academia

Na Suvinil, fabricante de tintas decorativas da Basf, a academia passa gradativamente à posição de principal parceira. Em busca de inovações extremas, o laboratório de pesquisa e desenvolvimento da companhia agora desenvolve projetos com universidades e institutos de pesquisa.

Dos cinco projetos em linha de desenvolvimento, dois seguem em parceria com instituições externas. Roberta Gonçalves, gerente do Laboratório de P&D da Suvinil, conta com a “mãozinha” externa para pensar em tecnologias que possam agregar valor aos produtos da marca.

O nome das parceiras e os projetos ainda não são públicos, mas Roberta afirma que as atenções da empresa estão totalmente voltadas para as questões de funcionalidade – a exemplo da linha antibactéria, que evita a contaminação de espaços. A sustentabilidade também é ponto importante. “Estamos atuando diretamente na administração de resíduos”, explica a gerente.
Parte da equipe de P&D da Suvinil está em busca de parcerias férteis em ideias e tecnologia.

Quem mora em qualquer Estado abaixo da divisa norte de Minas Gerais, possivelmente não conhece a linha extra rápido da Suvinil. O produto, vendido exclusivamente no Norte e Nordeste, foi elaborado em parceria com os laboratórios da Basf após uma manifestações de pintores e pedreiros nordestinos, que reclamavam que a tinta demorava demais para secar. “Após o contato com eles, percebemos que a umidade da região prejudicava a secagem, então pedimos apoio dos laboratórios da Basf para testar outras formulações no simulador de clima de outra divisão”, conta Roberta.

Entre 2008 e 2013, toda divisão de tintas da Basf recebeu R$ 150 milhões em investimentos. Só o laboratório de pesquisa e desenvolvimento do Demarchi, em São Bernardo do Campo (SP), consumiu, aproximadamente, R$ 36 milhões.

Roberta conta que a empresa está em busca de vantagem competitiva, ou seja, novas patentes, que serão co-criadas ou utilizadas mediante pagamento de royalties. A gerente garante que não vê nenhum problema no compartilhamento das informações industriais da empresa. “Faz parte do jogo. Para contar com as instituições de pesquisa e a universidade, há que se partilhar o conhecimento e também os resultados.”

Em time que está ganhando é que se mexe

Para José Ernani Filho, sócio-diretor da Pieracciani, consultoria em inovação, esse receio ainda é um dos maiores impeditivos da inovação no Brasil. Além disso, a pouca competitividade do mercado nacional – com grandes empresas e poucas concorrentes – não força um grande desenvolvimento de inovações. “A cultura do ‘não se mexe em time que está ganhando’ segura nosso processo de evolução”, diz.

Um dos resultados desse modelo é a menor influência do setor privado no desenvolvimento de novos processos e tecnologias. “Enquanto nos Estados Unidos 80% do capital para inovação vêm das empresas, aqui 80% do capital investido em inovação vem do governo e das universidades – que em boa parte são públicas”, explica.

Atualmente, a Lei do Bem oferece incentivos fiscais a empresas que se predispõe a dar um passo adiante. “Essa é uma das ferramentas que tem começado a forçar um pouco a mudança de mentalidade nesse aspecto”, diz. Por ora, a maior parte ainda não mexe nos seus times, ainda que eles estejam inovando menos que seus pares internacionais.

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