21 de outubro de 2013

Executivos trocam hotéis por albergues

Ferdi van't Wout, gerente de uma fabricante multinacional de eletrônicos na Holanda, costuma ficar em albergues quando viaja a trabalho, uma opção que ele descobriu no ano passado por acaso.

"Eu precisei viajar inesperadamente para Copenhague para encontrar com alguns colegas", recorda ele. "Como o tempo era curto e havia algum grande evento na cidade, foi simplesmente impossível encontrar um hotel no centro da cidade a preço acessível". Ele, então, reservou um quarto privado com banheiro no albergue Generator Copenhaguen.

O serviço, a decoração e as áreas públicas para trabalhar com tranquilidade e relaxar o impressionaram, então ele voltou várias vezes e também se hospedou em uma unidade da rede em Hamburgo, na Alemanha.

Os albergues são "bons para jovens empresários como eu, que estão prontos para ficar em qualquer lugar, mas não querem passar a noite inteira sozinhos no quarto", diz Van 't Wout, de 30 anos.
Josh Wyatt, sócio da Patron Capital, empresa de investimentos que é dona dos albergues Generator Hostels.

Os albergues, por muito tempo associados a mochileiros solitários e grupos de estudantes, recentemente passaram a atrair adultos mais velhos, famílias e, agora, até mesmo os viajantes executivos, especialmente aqueles de 20 e 30 e poucos anos, com orçamentos apertados, que normalmente costumam optar por albergues de luxo e mais preocupados com a decoração.

Josh Wyatt, sócio da Patron Capital, empresa de investimentos com sede em Londres que é dona dos albergues Generator Hostels, afirma que há um tráfego crescente de jovens empresários em seu albergue em Copenhague e em sete outras unidades europeias da rede.

Em uma delas, quase 20% dos hóspedes durante a semana são viajantes executivos, especialmente na baixa temporada. Ele atribui isso às melhorias no serviço, acomodações, decoração, alimentos e bebidas, áreas em que os albergues tradicionalmente não se destacam.

Muitos dos hóspedes da Generators estão em começo de carreira e viajam a trabalho sem dispor de grandes orçamentos para despesas. Em 10 anos, talvez fiquem em hotéis elegantes como o W e Standard, mas por enquanto eles escolhem albergues de luxo ao invés de hotéis econômicos.

Conforto e clima descolado

Wyatt destaca que o que os atrai é "dormir confortavelmente, ter bons chuveiros e Wi-Fi grátis, tudo em um clima descolado, descontraído. Se a pessoa precisa viajar e tem orçamento limitado, ainda assim quer se divertir e ficar em um lugar legal".

Segundo Wyatt, uma cama em um dos dormitórios coletivos do Generator Copenhagen pode custar cerca de 20% do preço de um quarto num hotel executivo típico de médio porte nas proximidades e, no Generator Barcelona, cerca de 10% do valor em um hotel de médio porte.

Além disso, quartos privados em albergues Generator nessas cidades podem sair pela metade do preço dos quartos de qualidade semelhante em um hotel de três estrelas, disse ele.

A empresa está começando a conduzir campanhas de marketing dirigidas a novatas e a executivos iniciantes. Ela faz reservas em sistemas pouco usados pelos albergues e lista vagas em sites de reservas mundiais online.

O setor de albergues tem crescido nos últimos anos porque mais pessoas têm viajado e porque a crise econômica mundial tem encurtado o orçamento dos viajantes, de acordo com a Stay Wyse, uma associação comercial sem fins lucrativos que monitora e investiga as tendências de acomodações entre jovens viajantes no mundo todo.

Os albergues, que têm tido lucros estáveis ao longo dos anos, também estão evoluindo à medida que se afastam do conceito rústico tradicional e passam a adotar uma arquitetura mais elaborada, com instalações e serviços melhores, uma tendência que começou por volta de 2004.

Aproximadamente 10% dos hóspedes de albergues são viajantes de negócios, um número que vem crescendo cerca de 1% ao ano desde 2009, em parte porque "o produto teve uma melhoria significativa em termos de qualidade", calcula Laura Daly, gerente de associações da Stay Wyse. "Com o investimento em instalações, prevemos que o crescimento virá em uma taxa anual ainda maior."

Bjorn Hanson, diretor do Centro Preston Robert Tisch de Hospitalidade, Turismo e Administração Esportiva da Universidade de Nova Iorque, diz não ter conhecimento de dados que acompanhem a estadia de viajantes executivos em albergues, mas que a tendência pode ser mais comum fora dos Estados Unidos, o que ele atribui a diversos fatores: as redes tradicionais de hospedagem oferecem mais opções baratas de boa qualidade nos Estados Unidos.

Além disso, na Europa, onde as marcas de baixo custo não são tão predominantes, os albergues "podem preencher essa lacuna", acrescenta. Ele também citou "uma maior aceitação de formatos não tradicionais de hospedagem."

Giovanna Gentile, executiva sênior de relações públicas do HostelBookers.com, um site de Londres que presta serviços de reserva de acomodações baratas ao redor do mundo, afirma que muitos albergues já oferecem serviços e instalações normalmente associados a hotéis: quartos privados com banheiro, piscina, sala de conferência e academia.

Entretenimento

Segundo ela, há albergues que oferecem muitas comodidades que os hotéis geralmente não oferecem: salas de entretenimento com televisões grandes, salas de cinema com som estéreo, salas de jogos, mesas de bilhar e cozinhas coletivas que "incentivam os viajantes a fazer a própria comida e evitar gastar uma fortuna em restaurantes". Os albergues também organizam atividades sociais, como noites de exibição de filmes, passeios pela cidade e outros.

Motivados em grande parte pela concorrência, os proprietários de albergues "tinham que encontrar uma forma de se destacar", disse Gentile.

O hotel fusion em Praga, por exemplo, é um misto de hotel e albergue que oferece quartos standard privados e dormitórios tradicionais compartilhados, bem como espaços de encontro não tradicionais, como um bar e lounge giratório e uma sala de jogos com grandes sofás coloridos dobráveis fixados à parede.

Os hóspedes podem se conhecer ou jogar videogame durante reuniões informais. A ideia de criar um híbrido entre hotel e albergue nasceu depois da crise econômica. "Temos um produto que pode ser vendido a qualquer um, a qualquer momento", disse Nah-Dja Tien, gerente geral do fusion. "Podemos proporcionar aos viajantes de negócios uma alternativa mais econômica e também uma experiência alternativa" para fazer negócios.

Giuseppe Gentileschi, chefe-executivo da Incoming Talents, uma agência de modelos e produtora de moda com sede em Praga, muitas vezes fica no fusion e outros albergues, onde também hospeda funcionários, clientes e modelos. A tendência é optar por albergues limpos, bem administrados, que oferecem uma atmosfera agradável, conforto e um design de alto nível, mas que não são pretensiosos, sem gastar uma "fortuna", argumenta ele. "No início, eu nem sequer percebi que o fusion era um albergue."

Para David Orr, fundador do Hostelz.com, um site de resenhas e reservas de albergues, "o segredo para um viajante executivo ficar em um albergue é escolher o estabelecimento certo. Acho que em alguns albergues, os viajantes executivos se sentiriam deslocados", como ele veio a descobrir em uma viagem de negócios à Espanha quando ficou em um albergue "onde os hóspedes costumam fazer festas a noite inteira".

Contudo, no geral, o mercado competitivo tem melhorado o padrão, defende ele. "O negócio não prospera se for um lugar sujo", contrapõe. "Em algumas cidades, os albergues são mais agradáveis do que os hotéis."

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